quarta-feira, março 18, 2009

OS RECADOS

Mário Soares veio criticar a postura de José Sócrates. Ao aconselhar o primeiro-ministro a ouvir e dialogar, mudando a sua atitude - o que não deverá ser fácil ao fim de 4 anos de maioria absoluta -, não podia ser mais claro no recado que enviou para dentro do partido e do Governo. Augusto Santos Silva dirá que o número não é sinal de qualidade e que os que estão na rua são os mesmo de sempre arregimentados pelo PCP e pela Intersindical. Certamente não andará longe da verdade, mas isso não esconde o facto de que não é preciso "andar na rua" a empunhar um cartaz para avaliar o estado do país. Mas se se fizer uma leitura conjunta das declarações de Soares e do que Manuel Alegre veio dizer, sublinhando de forma mais veemente aquilo que há muito aqui se escreve e que eu não me canso de repetir dentro do PS, ao afirmar que o "combate à corrupção e à promiscuidade entre partidos políticos, autarquias, Estado e mundo empresarial é um dos pilares da reforma da política", exigindo "regras legais claras, meios de fiscalização eficazes e efectiva sanção penal de quem pratica tais actos" e referindo que "a melhor forma de combater a corrupção é promover a transparência das decisões dos poderes públicos, o escrutínio da utilização dos dinheiros públicos e o reforço da capacidade de fiscalização, controle e participação cívica dos cidadãos", talvez se perceba melhor a razão para a incomodidade desses dois históricos do PS. Ao dizer o que disse, Alegre voltou a demonstrar que não está a dormir e mostra vontade para liderar a mudança, colocando de novo o dedo no cancro da especulação imobiliária e nas decisões administrativas das autarquias e da administração pública que permitem a acumulação e geração de mais-valias especulativas à custa da comunidade e com prejuízos para todos. E que fique claro que não me refiro só ao Freeport. Os exemplos que diariamente continuam a chegar de Espanha, sendo que o mais recente foi o da detenção da alcadalesa de La Muela, não podiam ser mais expressivos quanto à necessidade desse combate e da absoluta necessidade de criminalização dos delitos de natureza urbanística, retirando-os de uma vez por todas do campo das contra-ordenações. Se igual rigor ao que as autoridades de Espanha colocam nesses combates já tivesse sido posto em campo entre nós, talvez hoje a Câmara de Vila Real de Santo António não fosse utilizada como megafone informativo do Povo Livre, substituindo-se ao órgão oficial do PSD.