As declarações que José Lello proferiu sobre Manuel Alegre já fizeram correr muita tinta. Mas talvez ainda não tenha sido tudo dito. O comportamento de Alegre pode ser livremente apreciado por qualquer pessoa, mesmo por qualquer não militante do PS. Era escusado Lello vir dizer o que disse sobre Manuel Alegre. Deste ainda se conhece obra. Daquele, para além de ser famoso por pertencer ao clã do Bessa, onde pontificavam esses nobres exemplos de educação, cultura, transparência e civilidade para a democracia portuguesa que são os Loureiro, pai e filho, sabe-se que fez carreira na politica. Por isso mesmo, as suas declarações terão de ser devidamente contextualizadas. Mesmo sem querer, ao ouvir as declarações de José Lello lembrei-me de uma célebre passagem de Antero de Quental no discurso de 27 de Maio, na sala do Casino Lisbonense: "Há em todos nós, por mais modernos que queiramos ser, há lá oculto, dissimulado, mas não inteiramente morto, um beato, um fanático ou um jesuíta! Esse moribundo que se ergue dentro de nós é o inimigo, é o passado. É preciso enterrá-lo por uma vez, e com ele o espírito sinistro do catolicismo de Trento". José Lello devia enterrar o jesuíta que tem dentro dele. Se não o conseguir, estou certo que José Sócrates perdoar-lhe-á. E nós também, que aos poucos vamos conhecendo as fraquezas humanas. A cada um o seu Deus.