sexta-feira, fevereiro 13, 2009

UM PROBLEMA GRAVE

Há muito que se suspeitava do que estava a acontecer. Bastava passar por alguns locais de Lisboa, bares da 24 de Julho, das docas ou do Bairro Alto, apreciar o espectáculo deprimente de alguns bares e discotecas de província ao fim-de-semana ou andar pelas zonas mais movimentadas do Algarve para perceber que a coisa ia acabar mal. A coisa era o excesso de consumo de álcool entre os mais jovens. Recordo-me, quando andei num liceu, em Cascais, nos anos 70, de haver uns rapazolas que nos "furos" iam até um quiosque na Boca do Inferno tomar um "copo de palhete". Algumas vezes os acompanhei, muito embora sem consumir e sem perceber muito bem qual era o gozo do tal copo de palhete às 10 ou 11 da manhã que depois lhes tornava as manhãs intermináveis e ainda mais sonolentas. Alguns acabavam a dormir ao sol, enquanto os outros regressavam às aulas. Nesse tempo o álcool era uma novidade. Depois banalizou-se, a bebedeira semanal virou moda. Na década de 90, quando se começou a instalar o hábito de sair regularmente durante a semana, passou a ser quase diária. Quando hoje se percebem os terríveis efeitos do consumo exagerado de álcool e se vê o resultado disso nos estratos mais jovens da população, apenas se pode pensar que fomos todos imprudentes. Uma sociedade construída sem quaisquer padrões de cidadania, de decência e de responsabilidade, mergulhada no facilitismo, na frivolidade, na ignorância e, nalguns casos mesmo, na javardice despreocupada do espaço público, naturalmente que não saberia nem aprenderia a conviver com o álcool de forma civilizada. Como também não aprendeu a fazê-lo em relação à sexualidade ou às relações entre homens e mulheres. São modelos de comportamento boçal que passaram alegremente de pais para filhos e que têm reflexos na produtividade escolar e laboral, no desempenho rodoviário, na relações familiares, gerando tensões sociais e constituindo factor de violência acrescida. O resultado começa a ser demasiado trágico. Ainda vamos a tempo de atalhar. O Estado tem aí um papel importante a desempenhar visto que as famílias foram incapazes de exercer a sua missão. Arrepie-se caminho antes que seja demasiado tarde.