quarta-feira, dezembro 10, 2008

O PROBLEMA DE FUNDO

Fez bem Jaime Gama em dizer que o regimento não vai ser mexido por causa das últimas baldas dos senhores deputados. Efectivamente, o problema não está no regimento, no trabalho político ou na ausência justificada. O cerne da questão é a errada percepção e compreensão do estatuto do deputado, da sua dimensão e alcance. Tem, pois, toda a razão quando afirma que "ser deputado não é beneficiar de um direito, é contrair um dever para com os eleitores". A dificuldade aqui não será apenas a de conseguir sentá-los, como escreveu Marçal Grilo em relação aos estudantes, mas também de fazê-los entender o estatuto. A dificuldade é, assim, bem maior. A dificuldade é encontrar neste país gente com categoria e qualidade para poder desempenhar o mandato, gente que tenha a noção do dever e do estatuto, e não apenas do direito ou da benesse, em suma, gente que perceba a verdadeira dimensão ética da Política e da função que desempenha. Gente que tenha a noção da decência. Já se viu que não vai ser fácil quando há alguns que não sabem vestir, não têm a noção das conveniências, registam a presença para se pirarem na primeira oportunidade ou justificam a ausência com um trabalho político que só eles conhecem. Agora nem vale a pena lembrar que há alguns que mal sabem escrever ou falar. A culpa não é deles. É dos partidos e dos seus mecanismos de recrutamento e selecção. E nossa; que permitimos que a vida pública se enchesse de chicos convencidos de que a política é o melhor caminho para se governarem e ascenderem socialmente. O hábito continua a não fazer o monge, mas está deveras empedernido. Um dia, quem sabe, descobrir-se-á uma solução para isto.