quarta-feira, outubro 29, 2008

DIZ-ME COMO CONTRATAS, DIR-TE-EI QUE EMPRESÁRIO ÉS

O anúncio feito pelo primeiro-ministro do aumento do salário mínimo nacional para 450 euros, já a partir do próximo ano, desencadeou de imediato uma onda de contestação por parte dos nossos distintos "empresários". Actualmente fixado em 426 euros, pelo menos desde 31 de Dezembro de 2007 (cfr. Decreto-Lei n.º 397/2007) que se sabia que em 2009 seria fixado em 450 euros. Sócrates limita-se a cumprir um objectivo anteriormente fixado pelo seu Governo e já anteriormente anunciado, como forma de atenuação das desigualdades. Bagão Félix foi uma das poucas vozes que à direita do espectro político aplaudiu a iniciativa. E fez bem. Quem tem preocupações de ordem social e conhece a miséria que ainda grassa por esse país fora não pode ficar indiferente à realidade que o rodeia. O problema dos senhores empresários que têm dificuldade em pagar salários decentes aos seus trabalhadores, porque se especializaram na contratação a prazo, impondo contratos leoninos e horários para pessoal indiferenciado com cláusulas de isenção de horário, e que resolvem os seus problemas jurídicos pedindo apoio a contabilistas e notários, para não gastarem dinheiro com advogados, é que por via da actualização do salário mínimo vão ser obrigados a rever os salários da grande maioria dos trabalhadores que recebem ligeiramente acima do mínimo. Estes são o grosso da coluna. Curiosamente, muitos dos que hoje se queixam, dizendo que as empresas não vão aguentar este aumento há muito anunciado, são os mesmos que não se incomodam em gastar um salário mínimo numa manhã de compras, num passeio de barco, numa refeição no Gigi ou na Penha Longa ou em conferências para desocupados com ex-presidentes, magnatas e políticos reformados. Sabendo-se das diferenças que existem entre Portugal e os seus parceiros europeus, mesmo os mais recentes, importa que também no combate à pobreza e à miséria disfarçada nos aproximemos dos países mais desenvolvidos. O combate à pobreza e às cada vez maiores desigualdades sociais é uma bandeira do desenvolvimento e uma conquista civilizacional, tão ou mais importante como o combate à corrupção ou ao clientelismo de Estado que tanto preocupa os senhores empresários. Qualquer nação que se preze fará disso um objectivo do século XXI. Um empresário que não perceba isto não percebe nada. E faria melhor em estar atrás de um balcão a vender chamuças. Sempre poderia ir contando os trocos.