A rocambolesca história da alteração a um dos artigos da Lei de Financimento dos Partidos Políticos, por via da Lei do Orçamento de Estado para 2009, é sintomática da forma como alguns querem fazer política neste país. Aquilo que era uma verdadeira conquista da democracia e que se traduzia na transparência da contabilidade partidária e na responsabilização dos dirigentes e dos financiadores, por via da obrigatoriedade do pagamento de quotas e entrega de donativos por cheques ou transferência bancária, foi, como que por artes mágicas, transformada numa idiotia. O CDS e o PCP, como grandes beneficiários da inexistência de controlo, que durante anos se financiaram por meios um tanto ou quanto pouco transparentes e que ultimamente têm tido dificuldades financeiras, pura e simpelsmente silenciaram. Do CDS, ainda envolvido numa série de processos sob investigação é normal que assim seja. Paulo Portas, é sabido, especializou-se na política em apontar aos outros os defeitos que em si próprio e na sua casa não reconhece. Quanto ao PCP, campeão da defesa dos trabalhadores e de um maior controlo fiscal das finanças dos outros, quando se tratou das suas próprias finanças fez de conta que não era consigo. É claro que dá imenso jeito receber uns donativos do tipo "óbulo" para financiar campanhas sem que esses cobres entrem nas contas do partido e sejam sujeitas ao escrutínio público. O PSD só descobriu o "gato" depois da imprensa ter feito o trabalho de casa que à oposição competia. E no meu partido apenas se ouviu, uma vez mais, a voz destoante de João Cravinho. Ora, é exactamente nestas pequenas coisas que o PS deve e tem de marcar a diferença. Pela cara de Teixeira dos Santos e de José Sócrates, ou não sabiam do que se estava a passar, e eu acredito que na aflição da preparação e apresentação da Orçamento houvesse coisas que lhes podiam ter escapado, ou então essa seria uma argolada monumental. Como não acredito que estivessem de má-fé ou que tivessem admitido uma alteração dessas por ingenuidade, só posso pensar que a inclusão da mesma, que pela sua gravidade a todos os partidos devia envergonhar, foi feita por alguém bem colocado dentro de um dos gabinetes, com acesso fácil ao documento e que, por servilismo e bacoquice, entendeu ser oportuno arranjar maneira de angariar mais uns cobres por baixo da mesa para financiar as campanhas que aí vêm. Quem o fez mal pensou e pior executou. Teixeira dos Santos devia ter logo verificado a imbecilidade e corrigido o "lapso" em vez de tentar justificá-lo. Era evidente. Mas se tal alteração foi feita sem o conhecimento do ministro, então só há um caminho: investigar. Investigar quem fez tal alteração e quem a incluiu num documento daquela importância por forma tão canhestra à revelia dos responsáveis. E, depois, como é óbvio, demitia-o rapidamente. Gente dessa não interessa à política e faz mal à democracia. É aqui, nestas pequenas coisas, que o PS não pode claudicar e tem de marcar a diferença. Não pode haver condescendência nem tolerância em matérias deste calibre. Não seria são.