segunda-feira, outubro 06, 2008

ALHOS POR BUGALHOS


Num artigo publicado no último sábado na REVISTA ÚNICA, a pretexto da defesa da vereadora Ana Sara Brito, Inês Pedrosa escreve um texto no qual coloca diversas questões incontornáveis e actuais. Pedrosa enaltece a eficiência, a honestidade e todas as demais capacidades da vereadora de Lisboa, para depois perguntar "como sobreviverão os políticos honrados aos ataques insidiosos dos corruptos?". O problema é que Inês Pedrosa não percebe que o esclarecimento de uma situação que interessa a toda a comunidade não tem nada a ver com qualquer ataque insidioso a quem tem servido a causa pública. Eu fico satisfeito por saber que a vereadora Ana Sara Brito é uma mulher de coragem, que não é maleável, fraca e corruptível. E concordo com Pedrosa quando diz que "os medíocres formam máfias transversais no espectro partidário" e que não se pode deixar que os medíocres continuem a arrastar pela lama o nome de gente séria e honrada que faz falta à causa pública. O problema é que nada disso é compatível com a falta de transparência ou com o aparente aproveitamento de situações menos claras. O facto da atribuição de casas em Lisboa, ou noutra autarquia qualquer, ser um "negócio pouco transparente" é que pode levar as pessoas a pensar que há algo que não está bem. O escrutínio de todas estas situações é fundamental para que a democracia melhore e as instituições e os titulares de cargos políticos se sintam mais confortáveis nas funções que exercem. Ora, a atribuição nepotista de casas não pode fazer parte do quadro de actuação de uma autarquia, por mais louváveis que sejam as intenções. E as práticas do passado não podem continuar a justificar situações que ofendem o sentimento dominante de justiça social. Isso não tem rigorosamente nada a ver com honra e é do interesse de todas as vereadoras Anas Saras que estas situações sejam devidamente clarificadas. O que não se pode é tomar alhos por bugalhos ou reduzir as exigências de rigor e transparência quando estão em causa os nossos amigos e companheiros só porque confiamos neles. À mulher de César não basta ser, também tem de parecer, em especial para aqueles que não a conhecem.