quarta-feira, setembro 17, 2008

O ALIANÇA

É um café emblemático da cidade de Faro, ao lado de alguns outros, poucos, que ainda há pelo país, mas que discretamentes vão desaparecendo. Depois de há tempos ter sido fechado pela ASAE, o que já não abonava nada a favor de quem mantinha a porta aberta, fiquei hoje a saber que está em risco de fechar porque quem o explora também não paga as rendas devidas ao senhorio e o tribunal decretou o respectivo despejo. A Câmara já avisou que é um edifício classificado e integrado no património da cidade, pelo que não irá ser fechado para depois virar mais uma loja de trapos. Esta tarde, aos microfones da Antena 1, o actual arrendatário, que lá está há 6 anos, e é o mesmo que não pagou as rendas que determinaram o respectivo despejo, esteve a queixar-se das suas dificuldades e da falta de vontade do senhorio em não aceitar a proposta que aquele que não pagava as rendas queria agora efectuar. Depois de decretado o despejo, é claro. O problema é que o café não ficará encerrado apenas pela falta de pagamento de rendas. Mais dia menos dia, isso iria acontecer também por outras razões. O assunto é mais grave e tem a ver com a própria qualidade do serviço que ali, como noutros locais similares da cidade de Faro, é prestado. Enquanto houver gente que explore locais como o Aliança apenas para servir bicas, vender águas e tirar imperiais, num ambiente decrépito e sem acrescentar qualquer valor ao espaço, todos os cafés deste país com alguma história e tradição irão fechar. O arrendatário queixava-se do dinheiro que gastou nas obras, mas ninguém lhe terá dito que estas não tinham qualquer qualidade e que o mau gosto imperava. E que a qualidade do serviço e dos produtos ficava muito a desejar. Recordo umas das últimas vezes que por lá estive, em que a pessoa que estava comigo pediu um carioca de limão e este vinha turvo por ter sido utilizado na sua feitura o mesmo bico que servia para aquecer o leite e fazer os galões, sem que ao menos se tivessem dado ao trabalho de limpá-lo antes de o mergulharem na chávena de água com o limão. Talvez um dia, se entretanto não for demasiado tarde, arrendatários como o do Aliança, alguns dos quais perguntam quando se pede uma água se quer copo (!), venham a perceber que explorar um café ou um restaurante exige algo mais do que tirar bicas e servir febras. E que ter um estabelecimento comercial no Algarve, em Faro ou na Rua de Santo António, só por si não basta para justificar os preços escandalosos que muitas vezes se cobra por uma simples bica.

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