segunda-feira, dezembro 31, 2007

PALERMICE ESCORREITA

Na canhestra lógica a que já nos habituou a actual direcção do PSD, Luís Filipe Menezes atacou de forma veemente a saída da CGD e eventual entrada no BCP de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, tendo pugnado pela nomeação para o banco público de alguém da esfera do PSD para assim se manter a "tradição". Isto mesmo foi defendido por Pedro Santana Lopes, líder parlamentar do PSD, no seu blogue - www.pedrosantanalopes.blogspot.com -, num texto intitulado "Equilíbrio e Memória". Conforme o próprio Santana escreveu, não eram as pessoas que estavam em causa, mas a sequência de acontecimentos, o que no entender dos diorigentes do PSD obrigaria que para a CGD fosse um gestor como Miguel Cadilhe ou então que Constâncio abandonasse o Banco de Portugal. Menezes chegou mesnmo ao ponto de dizer que esta dança de gestores não era aceitável numa economia de mercado "escorreita" (sic). Nunca saberemos se a escolha de Faria de Oliveira pelo ministro das Finanças e o Governo de José Sócrates se inseriu na "tradição" de que Menezes e Santana se reclamam defensores, pese embora o facto de Teixeira dos Santos já ter dado a entender, implicitamente, que Menezes não lhe merece crédito atenta a sua condição de franco-atirador. De Faria de Oliveira, para além de ter sido ministro e ter feito a escola dos gestores públicos, sempre sem quaisquer resultados que o distinguissem do resto da maralha dos seus pares, a começar pela TAP que Fernando Pinto aos poucos vai saneando, sabe-se que é militante do PSD, foi vice-presidente do partido e estava em Espanha já ao serviço da CGD. Pelo que disse o verborreico Gomes da Silva, o PSD ficou satisfeito com a escolha. Quer isto dizer que para Menezes e seus acólitos, a nomeação de Faria de Oliveira cumpre a tradição e compensa uma mudança de gestores que antes era do "quarto-mundo" e furava as regras do mercado. Em rigor, Menezes até disse que «sempre foi assim no passado, sempre deve ser assim no futuro», concluindo que a nomeação de Faria de Oliveira se tratava de uma "sensatez". Traduzidas à letra, as declarações de Menezes e da sua tropa são uma palermice escorreita e apenas querem significar uma coisa: que uma má decisão, uma decisão do "quarto mundo" ou o mau funcionamento da economia de mercado se tornam aceitáveis enquanto se mantiver a lógica imbecil da divisão dos tachos do Estado e das empresas públicas pelas máquinas partidárias, independentemente dos méritos dos nomeados e desde que isso represente o cumprimento de uma "tradição". Para dizer a verdade, eu até percebo a lógica de Menezes. É que foi graças a esta e ao cumprimento da tradição - outra palermice escorreita - que ele e o senhor Santana chegaram a deputados, membros do governo, presidentes de Câmara e líderes do partido. E foi graças a ela que o senhor Ribau Esteves, um típico vendedor de banha da cobra que dá dicas sobre a melhor forma de "comer uma gaja boa", se tornou autarca e vice-presidente do partido, o senhor Loureiro virou secretário de Estado e presidente da Liga de Clubes ou o senhor Mendes Bota foi presidente de câmara, deputado europeu e já se posiciona como futuro líder da região do Algarve. Num país civilizado, a avaliar pelas suas habilitações, currículo e discurso, nenhum deles teria passado de um funcionário público mediano. É, pois, natural que eles estejam agradecidos à divina providência, à "tradição" e ao "quarto-mundismo". São estes, mesmo quando estão temporariamente em funções no sector privado, que lhes mantêm os lugares, confortam as clientelas e asseguram as influências necessárias à manutenção das respectivas tenças. Assim, é normal que todos eles vejam a nomeação de Faria de Oliveira como uma vitória.

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