O presidente da distrital de Lisboa do PSD resolveu tentar obter na capital o protagonismo que a vice-presidência da Câmara Municipal de Cascais e o bom senso de António Capucho não lhe têm permitido conseguir ali. As declarações ontem proferidas por Carlos Carreiras, voltam a colocar em cima da mesa a necessidade de clarificação dos objectivos que movem o PSD na autarquia de Lisboa. Se quando tiveram lugar as eleições intercalares para a Câmara, depois de toda a bagunça gerada por Carmona e a rapaziada do PSD, já não era compreensível que fossem feitas eleições para um órgão deixando-se o outro de fora, solução contra a qual o PS se bateu, menos se compreende agora que tendo o PSD viabilizado o plano de saneamento financeiro de António Costa, ao abster-se nessa votação, queira num segundo momento chumbar o empréstimo na Assembleia Municipal. Por um lado, não se vê o que o PSD poderá ganhar com tal atitude. Sabendo-se à partida que os isboetas não são palermas e que o dinheiro não iria cair do céu, melhor seria que antes de se ter abstido na aprovação do plano o PSD tivesse votado contra ou solicitado os esclarecimentos adicionais, que tarde e a más horas se lembrou de pedir, antecipando as consequências da sua abstenção. É evidente que neste momento não há rigorosamente nada a esclarecer. Todos já perceberam o buraco em que a Câmara está e que as condições de saneamento da autarquia passam pelo pagamento das dívidas. Vir dizer que o empréstimo irá onerar durante mais um bom punhado de anos a autarquia e os seus municípes soa a blague, em especial vindo de quem não fez mais nada do que acumular dívidas e permitir a delapidação do orçamento camário em negociatas mal esclarecidas e campanhas de muito duvidoso mau gosto. Ainda todos nos lembramos dos cartazes de Santana espalhados por Lisboa e de perguntas do género "já reparou no que estamos a fazer em Lisboa?". Naturalmente que os lisboetas não imaginavam o que Santana, Carmona e a malta por eles liderada iriam fazer em Lisboa e o estado em que a capital seria entregue a António Costa. Por isso mesmo se torna neste momento bem compreensível a posição de Paula Teixeira da Cruz. Sendo uma mulher de bom senso, conhecendo António Costa e sabendo qual o prejuízo que pode resultar para a cidade do chumbo do empréstimo, por sinal e ao que todos dizem, negociado com termos altamente favoráveis, com a consequente convocação de novas eleições, a presidente da Assembleia Municipal não irá fazer o papel do irresponsável, mesmo que isso a transforme no patinho feio de Andersen. E se o problema de Carreiras é o eventual chumbo do empréstimo por parte do Tribunal de Contas, menos se compreende a razão pela qual o PSD não há-de permitir a viabilização do mesmo na Assembleia. De um ponto de vista político o PSD e Carreiras só teriam a capitalizar com tal chumbo. Mas como aos poucos se vai percebendo, há muito que não é o interesse de Lisboa que move a distrital do PSD. São antes os interesses. Os mesmos que levaram Durão Barroso a sair a meio de uma legislatura e a entregar o governo do país a Santana Lopes, os mesmos que levaram este a abandonar a Câmara de Lisboa e depois a regressar, e ainda os mesmos que levaram Carmona, Gabriela e Fontão a naufragarem com o barco a que se agarraram que nem umas lapas. Neste momento, por mais sério que seja o ar que Carreiras coloque nas suas declarações, já todos perceberam que é apenas a ânsia de protagonismo que o move. Carreiras segue atrás de Luís Filipe Menezes. E com essa ânsia vai também a tentativa, obstinada e irresponsável, de evitar que António Costa faça em Lisboa aquilo que os lisboetas esperam e que o PSD e a sua gente nunca foram capazes de fazer. Nem sequer mal. Governar a cidade é tão-só o que está em causa. Nada mais.
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