sexta-feira, dezembro 28, 2007

COMO DISSE?

A saída de Carlos Santos Ferreira para o BCP parece estar a pôr a cabeça em água a muita gente. De repente "deu a louca no povo". Primeiro foi Luís Filipe Menezes a pedir a nomeação para a CGD de um correligionário; depois foi o mesmo Menezes a colocar entraves à inclusão de Vara na lista de Santos Ferreira para os órgãos sociais do BCP; a seguir veio Diogo Feio, dirigente do CDS/PP, manifestar a sua incomodidade pelo que se estava a passar na CGD e, no final, o ramalhete ficou completo quando surgiu um professor universário, saído sabe-se lá de onde, ontem na SIC Notícias, a comparar a passagem de Santos Ferreira da CGD para o BCP como se fosse uma transferência de Pinto da Costa do FC Porto para o Benfica. Estava jantar e quando ouvi tal bojarda engasguei-me. O homem não me pareceu estar alcoolizado, mas lá que saiu saiu. Começando pelo fim, importa referir quanto ao professor universitário que a única coisa que posso fazer é lamentar a intervenção. Pelos seus alunos. Eu se fosse seu aluno sentir-me-ia envergonhado e nunca mais diria a ninguém que o sujeito era meu profesor. Se aquele fulano que esteve com a Ana Lourenço na SIC-N a debitar fosse um exemplo dos professores universitários deste país certamente que o melhor era encerrar as universidades. Todas e de uma vez. Então não é que o tipo se lembrou de manifestar preocupação pelos "segredos" que o gestor da CGD iria levar com ele para o rival BCP? Então não é suposto que ele continue a trabalhar na mesma área ou será que sofre de alguma capitis diminutio que o iniba de exercer funções no BCP? Então não é normal um técnico mudar de emprego e ir para outra empresa do mesmo ramo desempenhar idênticas funções? E antes de ir para a CGD Santos Ferreira não passara já por uma empresa ligada a esse universo empresarial do BCP? Quantos gestores, directores comerciais, directores de marketing, arquitectos, advogados, bancários, munidos de todos os segredos, saem diariamente de uma instituição para entrar noutra onde continuam a exercer a sua profissão mesmo que a de destino seja rival? Isso diminui-os aos olhos dos concorrentes ou da opinião pública ou transforma-os nuns salafrários prontos a cometerem as maiores malvadezas ao antigo patrão para gáudio do novo empregador? Sendo o BCP uma empresa privada há alguma coisa de anormal na escolha, tanto mais se o escolhido é um tipo reconhecidamente competente e de uma honestidade à prova de bala? E se fosse ao contrário, isto é, se o trânsito fosse do BCP ou do BES para a CGD, já seria aceitável? O infeliz opinante também teve o azar de ninguém lhe dizer que Santos Ferreira não é simpatizante, sócio ou accionista da CGD, ao contrário de Pinto da Costa em relação ao FC Porto, quando se lembrou de estabelecer aquela infeliz comparação. É que nem mesmo quando se tenta salvaguardar as devidas distâncias o exemplo tem algum senso. Enfim, desta vez o disparate não passou de mais um momento hilariante da SIC Notícias, não causando mossa de maior. Já Diogo Feio anda muito esquecido quando se mostra chocado com as trocas e baldrocas do banco público. Cumpre pois perguntar-lhe se já se esqueceu do que se passou com Celeste Cardona quando esta foi nomeada para essa mesma administração da CGD depois de ter sido defenestrada do ministério da Justiça. Não me recordo de por essa altura ter ouvido Diogo Feio, Paulo Portas, Marques Mendes ou Santana Lopes a protestarem. Por isso estranho. E ainda mais confuso fico quando me recordo claramente de ter ouvido Menezes, há dois anos atrás, sair a terreiro para defender a inclusão de Armando Vara na administração da CGD. Se bem me lembro, dizia ele qualquer coisa como isto: um antigo ministro de Portugal, um antigo ministro do seu país, merecia-lhe toda a confiança e tinha toda a credibilidade e competência para exercer funções de vogal na administração de um banco público. Se antes tinha será que agora, com a experiência que adquiriu e não constando que seja burro, deixou de ter? Eu que na altura não concordei com essa nomeação, aí sim indecorosa, gostava de saber o que entretanto aconteceu que levou Menezes a deixar de considerar um ex-ministro do seu país como competente a ponto de hoje não lhe reconhecer capacidade para exercer as mesmíssimas funções de administração num outro banco, mais pequeno, e que ainda por cima é privado? Se há alguém que nesta história pode sair chamuscado não é seguramente Carlos Santos Ferreira. Menos ainda Armando Vara. Os louros terão de ir por inteiro, entre outros, para Vítor Constâncio e o Banco de Portugal que há anos se demitiram da sua função fiscalizadora e supervisora, para Jardim Gonçalves, para Filipe Pinhal e os demais administradores cessantes do BCP, para os que em 2000, 2001 e nos anos seguintes ali exerceram funções e, em especial, para o Dr. João Salgueiro, presidente da Associação de Bancos, que quando estava em causa a reposição de milésimas nos arredondamentos das taxas e comissões cobradas pela banca, no que era um princípio da mais elementar justiça e honestidade, saiu logo espaventoso em defesa dos agiotas e que até agora, perante uma crise desta dimensão, emudeceu, tentando passar por entre os pingos de chuva sem se molhar. Há silêncios que dizem tudo.

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