A discussão do Orçamento de Estado de 2007, na Assembleia da República, constituiu a primeira prova de fogo para o PSD pós-mendista e o primeiro teste ao Governo de José Sócrates na era de Luís Filipe Menezes. Sabendo que o PSD teve tempo para se preparar para o debate e que em jogo estava a nova estratégia gizada pela tripla Menezes/Ribau Esteves/Santana Lopes, esperava-se muito de um debate que no final se veio a revelar morno, inócuo e até certo ponto prazenteiro. Morno porque se viu que nunca passou de uma trica paroquial, com intervenções que denotaram algum cansaço, caso das de José Sócrates, e falta de arrojo e preparação por parte do líder parlamentar do PSD. Tirando um ou outro momento, onde sobressaiu mais a elevação do tom de voz do que propriamente o debate, o mais que se viu foi uma perfeita desgarrada. Inócuo, visto que tudo vai continuar na mesma: Sócrates governa, a oposição impotente consente enquanto espera por melhores dias. A única nota dissonante, a temperar a monotonia e o monocordismo das intervenções, foi dada pela intervenção de Augusto Santos Silva que logo justificou o abandono do hemiciclo por parte de Santana Lopes. O ex-primeiro-ministro pode tentar justificar a ausência com os telefonemas que tinha para fazer ou que atender no seu gabinete da Assembleia, mas não se livra da crítica. Queixava-se a oposição de uma insuficiente e pouco assídua presença do Governo no parlamento e quando aquele lá está em peso, e a discussão centrada no líder da bancada da oposição, logo este tira uma guia de marcha e assim, como quem não quer a coisa, sorrateiramente, abandona o debate. Para quem se considera um exemplo de boa educação, nada melhor do que deixar o ministro a falar sozinho quando este o coloca em xeque, virando-lhe as costas. É óbvio que a atitude de Santana não passou de mais um amuo, dos muitos a que a opinião pública já se habituou - com a excepção compreensível de Nuno Rogeiro que, como se pode ver hoje na Sábado, continua a ler muitos livros de banda desenhada e acaba a confundi-la com a realidade. Mas para quem se quer afirmar como líder parlamentar do maior partido da oposição e ajudar Menezes a reconquistar o poder para o PSD, o começo não podia ser pior. A dupla agenda de Menezes e de Santana, que só ainda não chegou ao ponto deste falar ao mesmo tempo do primeiro, mostra a forma como o partido voga ao sabor do momento. Se a multiplicação de intervenções de um e do outro visava colmatar um vazio deixado pela anterior liderança do partido, não se vislumbra em que ponto a estratégia agora seguida poderá vir a dar frutos. De momento temos apenas conferências de imprensa de Menezes e declarações avulsas - embora como Pacheco Pereira salientou a que antecedeu o debate do OGE tenha sido a primeira com alguma consistência em termos programáticos -, quer daquele, quer de Pedro Santana Lopes. De quando em vez também surge Ribau Esteves, a apregoar os sucessos que hão-de vir. A visita de ontem à Assembleia e o almoço que Menezes ali tomou com Santana Lopes assumem, pois, um ar surrealista. À falta de lugar na bancada, e não podendo ser colmatada a sua ausência para ali se poder fazer ouvir, Menezes parece querer entrar no parlamento pela porta dos fundos, contando para tal com a ajuda do seu líder parlamentar. Não passou do restaurante. Para quem aspira à governança nacional essa é uma forma atípica de se querer impor. Por agora, limito-me a constatar que muito dificilmente Santana Lopes levará até ao fim o seu mandato à frente da bancada do PSD. E se o fizer lá virá o tempo em que ele irá aparecer a dizer o quanto lhe custou, o quanto sacrificou a sua vida pessoal e profissional em prol do partido. Querem apostar?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário