As declarações proferidas por Correia de Campos esta manhã em Viana do Castelo, atribuindo à imprensa, em bloco, as culpas pela cada vez maior rejeição e incompreensão das suas políticas, roçam o inacreditável. O ministro da Saúde, tal como Mário Lino já anteriormente também fizera a propósito da OTA, começa a ter alguma dificuldade em fazer passar a sua mensagem. Este facto, associado a uma pose altiva e sobranceira, que nalguns casos assume laivos de autoritarismo - veja-se o dedo espetado, a vozearia, o desprezo por quem o interroga..., além de irritante, coloca em causa a própria capacidade do Governo de escorar as suas políticas na compreensão e aceitação da mensagem pelos seus destinatários. Correia de Campos parece ignorar aquilo que o seu colega Alberto Costa há muito aprendeu com Niklas Luhmann e que se traduz na chamada legitimação pelo procedimento. Bem sei que querer fazer participar os doentes, os reformados, os trabalhadores e os professores em políticas que lhes afectam a carteira e o bem-estar é uma utopia. Mas talvez não fosse mau que o ministro da Justiça emprestasse alguns dos escritos que possui do sociológo alemão para que Correia de Campos recordasse alguns dos seus ensinamentos. Em especial neste momento e no mesmo dia em que foram conhecidos os resultados da última sondagem da Universidade Católica/Antena 1, que atribui ao PS uns miseráveis 41% das intenções de voto, enquanto o PSD ascende ao 35%. É um resultado mau para o PS, diria mesmo muito mau, para quem tem visto José Sócrates exultante com os êxitos económicos do seu Governo e com os sucessos, até agora, da presidência europeia. Aquilo que sobra a Teixeira dos Santos em humildade, paciência e capacidade de comunicação, falta em Correia de Campos e em Mário Lino em doses idênticas. Seria bom que o primeiro-ministro no intervalo dos almoços e dos jantares europeus começasse a olhar para dentro. Amanhã, poderia mesmo aproveitar o fórum das Novas Fronteiras, onde irão estar António Vitorino e Mariano Gago, para começar a enviar alguns recados. A soma dos sinais começa a ser preocupante para quem até agora se tem limitado a ver apregoar os sucessos. Convirá, pois, não esquecer que há riscos desnecessários e erros que se pagam caro. Em politica, normalmente, estes últimos são irreversíveis. Marques Mendes que o diga.
P.S. Depois de ler o artigo de hoje de Luís Campos e Cunha no Público acho que foi uma benção a sua saída do Governo. O país só ficou a ganhar com a troca por Teixeira dos Santos.
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