terça-feira, outubro 30, 2007

GABO-LHE A PACIÊNCIA

Acabei de ouvir há pouco a transmissão do debate na Comissão da AR com o Procurador-Geral da República. Como já se adivinhava, não havia mais nada a esclarecer que não tivesse sido já esclarecido. Mas foi bom que Pinto Monteiro lá tivesse ido reafirmar tudo o que antes já dissera. Os senhores deputados escusavam de ter ouvido o PGR dizer-lhes onde podem adquirir aparelhos para realização de escutas ilegais (ali ao Martim Moniz), que nunca ninguém viu operações policiais para recolha desses materiais, que os aparelhos podem ser comprados via internet, e mais um ror de coisas conhecidas. Que "a hierarquia funciona muito mal", que esse mau funcionamento começa logo na base e que não existe poder de coordenação por falta de instrumentos legais, também não era propriamente uma novidade. Os senhores deputados estão fartos de saber disto, mas ainda assim insistem neste tipo de audições a bem do espectáculo parlamentar. Nuno Melo chegou atrasado a uma reunião que ele próprio tomou a iniciativa de convocar e só isso já diz muita coisa. Mas a indigência política e intelectual de alguns é de tal ordem que em vez de fazerem perguntas claras e directas a quem lá está para responder, se põem a dissertar sobre aquilo que demonstram desconhecer, mais com vontade de se fazerem ouvir do que de obterem respostas. Infelizmente, a parcimónia de que que falava o deputado António Filipe na convocação de depoentes como o PGR - fiquei sem perceber que parcimónia era essa, pois o PCP foi um dos que contribuiu para a unanimidade - não é seguida por ele nem pelos colegas de comissão nas intervenções que fazem nem no modo como as questões são colocadas. Dir-se-ia que o objectivo é mesmo o de colocar muitas perguntas, mesmo disparatadas, atirar observações sem nexo para o ar, em suma, fazerem-se ouvir lá em casa em profundíssimas dissertações. O Dr. Negrão quer tudo escrito num manual. Presumo que depois os polícias irão consultando o manual para saber o que podem ou não podem escutar. Aliás, diga-se em abono da verdade que a intervenção da senhora deputada do Bloco de Esquerda resume tudo. E é esta mulher deputada! Tudo espremido, Pinto Monteiro poderia ter respondido às questões que lhe colocaram em não mais de 30 minutos. Os senhores deputados fizeram o favor de esticar as suas intervenções e ele perdeu a tarde. Confesso que ao ouvir o deputado António Filipe, enquanto o António Preto se recostava na cadeira, lembrei-me daquele tempo em que discutíamos na faculdade o futuro da avaliação contínua e outras coisas do género. No plenário ainda vão disfarçando as insuficiências. Em comissão isso não é possível. Ao fim de mais de duas décadas não evoluíram nada. Está tudo na mesma. Basta assistir a uma coisa destas uma vez para se perceber o país que temos. É uma tristeza.

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