segunda-feira, julho 23, 2007

PARTIDO DE CACIQUES



O senhor que está na fotografia, de dedo espetado, há mais de uma dezena de anos que anseia ser o líder do PSD. Como ele há mais alguns eternos candidatos à liderança do maior partido da oposição, putativos líderes, sempre prontos a atacarem o seu próprio chefe, mas desconfiados e medrosos quando se trata de se chegarem à frente. Primeiro vão reflectir, depois contam espingardas, no fim fazem declarações de salvaguarda da sua mediocridade política. Ontem, Marques Mendes, personagem pela qual não tenho particular apreço enquanto líder do PSD, dada a forma atabalhoada e incompetente como tem gerido tal agremiação política, veio, uma vez mais, pôr o dedo na ferida e denunciar aquilo que neste país todos conhecem desde os tempos do liberalismo. Portugal é um país de caciques e os seus partidos políticos, do século XIX ao XXI, são o reflexo disso mesmo. Quem ontem ouviu as declarações de Marques Mendes não pode ter deixado de se recordar de tudo aquilo que Eça e Ramalho escreveram. É claro que todos os que acompanham a vida política sabem que aquilo que Marques Mendes disse quanto ao pagamento de quotas não é, ou não foi, exclusivo do PSD. E quem diz quotas diz donativos, como agora se revela no caso do tal benemérito do CDS de Paulo Portas que é reconhecido pelos depósitos bancários que efectua e dá pelo nome de "Jacinto Leite Capelo Rego", figura de todos desconhecida mas omnipresente na democracia portuguesa sempre que se trata de subsidiar campanhas eleitorais. Aqui e ali, amíude, há uma ou outra coisa que muda, mas não os métodos típicos do caciquismo e do clientelismo eleitoral típicos do período liberal. Só por isso é que os nomes de Valentim Loureiro, Isaltino Morais ou Fátima Felgueiras são recorrentes de cada vez que se fala em tais métodos. O drama de Marques Mendes não é que algumas vezes tenha razão, embora raras é certo. O seu drama é definitivamente a sua falta de credibilidade, de carisma e de vocação para líder. Só que depois de ter assumido os destinos do PSD e de se ter comprometido a levar o partido até às próximas legislativas, ficou sem qualquer margem para recuar. O ataque que agora é feito aos caciques do seu partido deverá, pois, ser entendido, não como um desafio a esses mesmos caciques internos, mas como um estímulo à sua própria liderança. Veremos, depois destas declarações, quantos se chegam à frente e quantos permanecerão de dedo espetado na direcção do líder depois do processo das directas. O príncipio "um homem um voto" continua a ter mais dificuldade em implantar-se dentro dos partidos do que teve para singrar no país no pós-25 de Abril de 1974.

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