segunda-feira, abril 23, 2007

APRENDER COM QUEM SABE

O Algarve tem de tomar consciência que para criar valor em torno do produto não pode continuar a ter um ambiente do terceiro mundo. A estrada de acesso à Quinta do lago está cheia de “outdoors”, de sapatarias e bares de alterne, e isso tem um custo muito grande. O caminho entre Almancil e Quarteira está pior do que quando aqui cheguei, com obras abandonadas e bermas maltratadas. Não custa muito dinheiro atacar esses problemas. O Algarve também precisa de qualidade médica para fixar o turista residente. Dá-se um fenómeno aqui na Quinta do Lago: quando a pessoa tem problemas de saúde, vende a casa e vai embora. Isso tem sido sistemático” – André Jordan, Única, in Expresso, 21/4/2007.


E não sou daquelas pessoas que estão convencidas de que Portugal para ser um país próspero tem de acabar com as leis laborais. Penso que não é por aí. É pela iniciativa e pelo trabalho que se consegue desenvolvimento. Sempre estive ligado a empresas em crescimento e nunca tive o problema de mandar gente embora. Mesmo em Belas não despedi ninguém, porque não queria perder a equipa que esteve lá durante dez anos” – ibidem.


Este pequeno excerto da entrevista que André Jordan deu à Única é elucidativo sobre o espírito e a categoria do homem. Vale a pena ler a entrevista toda, com eu fiz de supetão, mas essas duas pequenas passagens suscitam-me, também, duas breves e rápidas reflexões.


Em relação à primeira citação, não posso deixar de concordar com o que André Jordan disse e não esquecer que a Câmara de Loulé, onde se integra Almancil e a Quinta do Lago, autarquia que já foi do Dr. Mendes Bota e é agora do Dr. Seruca Emídio, é a mais rica do país. Quem vai todos os dias à Câmara de Loulé ou tem processos naquela autarquia, naturalmente que não estranha o estado das vias de que se queixa o senhor André Jordan. E é bom que esse apelo contra o terceiro mundismo seja transmitido por quem investiu milhões na região, atraiu e criou riqueza e postos de trabalho, em suma, por quem fez pelo Algarve, mesmo com dois “ll” na versão do ministro Manuel Pinho, aquilo que muitos portugueses e locais, designadamente algarvios, como Sousa Cintra, não fazem, não fizeram, nem nunca irão fazer pela região. Por isso mesmo, quando ouço o apelo regionalista de alguns não posso deixar de pensar nas autarquias algarvias e naquilo que por algumas corre. Só visto. Contado ninguém acredita.

Quanto à segunda citação, é bom recordá-la, em especial numa altura em que se começam a conhecer, com algum detalhe, os contornos da gestão do Grupo Prasa em Vilamoura. Os nossos amigos espanhóis, depois de adquirirem a empresa de André Jordan, têm-se dedicado, paulatinamente, a destruí-la. De tudo tem acontecido. Porto de abrigo para acolher infelizes que não tinham lugar noutro lado, nem em Espanha nem em Portugal, despedimentos sumários de pessoal técnico com muitos anos de casa, diminuição de regalias de trabalhadores ao serviço, falta de visão e de estratégia, enfim, tem sido um nunca mais acabar de disparates, petulância, sobranceria e castelhana arrogância. Sou insuspeito para dizê-lo, pois as minhas afinidades com Espanha são públicas e conhecidas - a começar por alguns textos deste blogue - e o meu círculo de amigos conta, há várias décadas, com um bom punhado de espanhóis. O Administrador- Delegado do Grupo Prasa em Portugal devia ler a entrevista de André Jordan. Mas não só ele. Os seus patrões em Espanha também. E mais alguns empresários. Podia ser que aprendessem alguma coisa. Bem sei que nem todos nascem com o mesmo grau de educação, de inteligência ou têm as mesmas oportunidades. Ou assessores à altura. Mas durante a vida sempre se pode aprender alguma coisa com quem sabe. É preciso é querer e ir à procura disso mesmo. O resto virá por arrastamento. Ás vezes até a boa educação. Embora esta, como todos sabem, seja mais volátil quando aprendida na idade adulta e mais difícil de apreender nos manuais ou em aulas de formação.

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