A jornalista Judite de Sousa resolveu entrevistar o arguido de um processo-crime. Esse arguido é (ou era?) militante do PSD, presidente da Câmara de Gondomar, administrador do Metro do Porto. Já foi presidente do Boavista e presidente da Liga de Clubes. Não é um arguido qualquer. E não sendo um arguido qualquer foi acusado de dezenas de crimes de corrupção pelo Ministério Público.
Ontem, a jornalista em causa deu-lhe tempo de antena, do muito que o sujeito tem gozado, para que ele pudesse desancar no Ministério Público e no juiz de instrução que mandou o processo para julgamento. A este último chamou-lhe "ficcionista"!
Ontem, a jornalista em causa deu-lhe tempo de antena, do muito que o sujeito tem gozado, para que ele pudesse desancar no Ministério Público e no juiz de instrução que mandou o processo para julgamento. A este último chamou-lhe "ficcionista"!
Não sei o que tal juiz de instrução irá fazer, mas um colega meu, advogado em Faro, por ter escrito, quando interpôs recurso de uma sentença, em seu entender injusta, que aquela era "infeliz", mereceu uma participação para a Ordem dos Advogados do ilustre magistrado de Silves que admitiu o recurso, que o acusou de com tal expressão ter sido violado pelo advogado o dever de urbanidade para consigo. Este é apenas mais um pequeno exemplo da forma como alguns exercem o poder. Fico, pois curioso, para ver como reage esse juiz. Se é que vai reagir.
É claro que não ponho em causa, quanto mais não fosse por formação, que um arguido tenha o direito de exprimir livremente o seu pensamento e de se defender em público, tanto mais que tem sido atacado, julgado e condenado em diversos órgãos de comunicação social. O que questiono é que numa fase destas do processo a televisão pública lhe faculte o exercício de um direito de defesa que não faculta a mais nenhum arguido.
É claro que não ponho em causa, quanto mais não fosse por formação, que um arguido tenha o direito de exprimir livremente o seu pensamento e de se defender em público, tanto mais que tem sido atacado, julgado e condenado em diversos órgãos de comunicação social. O que questiono é que numa fase destas do processo a televisão pública lhe faculte o exercício de um direito de defesa que não faculta a mais nenhum arguido.
E não deixou de ser penoso ver a forma como a entrevista foi conduzida. Antes seria de dizer monólogo, já que, em rigor, foi o entrevistado quem conduziu a entrevista, dizendo tudo o que lhe veio à cabeça, vangloriando-se do seu poder autárquico, dando-se ao luxo de achincalhar quem o entrevistava.
Ao longo da entrevista a jornalista foi tratada por Judite, D. Judite e Drª Judite, consoante os humores do entrevistado. Em dada altura até lhe chamou "primeira dama de Sintra". A jornalista, subservientemente, tudo permitiu e excaixou com um sorriso nos lábios.
O público não ganhou nada com a entrevista, o arguido não saiu ilibado, a mulher saiu aviltada, o jornalismo televisivo não saiu prestigiado. Enfim, mais um triste espectáculo.
Ao longo da entrevista a jornalista foi tratada por Judite, D. Judite e Drª Judite, consoante os humores do entrevistado. Em dada altura até lhe chamou "primeira dama de Sintra". A jornalista, subservientemente, tudo permitiu e excaixou com um sorriso nos lábios.
O público não ganhou nada com a entrevista, o arguido não saiu ilibado, a mulher saiu aviltada, o jornalismo televisivo não saiu prestigiado. Enfim, mais um triste espectáculo.
Mas quando há jornalistas que se prestam a exercícios como o de Judite de Sousa, com arguidos como o que estava em estúdio, num canal da televisão pública, está tudo dito sobre o país que temos.
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