terça-feira, março 20, 2007

ALLGARAVIADA DO COSTUME!




A nova campanha promocional do Algarve, lançada no final da semana passada pelo ministro Manuel Pinho tem vindo a gerar protestos por parte de alguns dirigentes políticos e responsáveis algarvios. O Correio da Manhã, o Público e os jornais regionais (interessantes o artigo de Pedro Maia no Observatório do Algarve e as notas de António Boronha) fizeram eco desses protestos. Os fundamentalistas do costume falaram logo em atentado contra os valores históricos do Algarve e pediram a demissão do ministro. Sem razão quanto a mim. Não tanto pela expressão escolhida, mas pelo jogo que é feito com o nome da região designada por Algarve (também já houve quem falasse no reino dos Algarves). Que os homens do marketing têm por hábito jogar com as palavras, criar novas expressões e fazer trocadilhos fáceis, já todos sabemos. Que o ministro da Economia, sendo um homem de boa fé e bem intencionado, tem sido infeliz em muitas intervenções, também não é novidade. Mas todos sabemos que os que agora protestam são os mesmos que mandando no Algarve há dezenas de anos foram até hoje incapzes de fazer algo que se visse e são os mesmos que habitualmente protestam por tudo e por nada. De alguns se dirá mesmo que sofrem de "regionalite aguda". José Vitorino ou Mendes Bota outra coisa não querem do que promoção e tempo de antena. Aliás, precisam destes fait-divers para darem nas vistas. Um há muito que mostrou não ter dimensão que o recomendasse. Ao outro já ninguém leva a sério. O responsável pela Região de Turismo do Algarve, Hélder Martins, que é tão algarvio quanto os demais e não consta que seja socialista, não se manifestou contra a campanha. Bem pelo contrário. E até diz mais: diz que as Câmaras de Faro e de Loulé, esta última do PSD e bem próxima de Mendes Bota, foram ouvidas sobre a campanha e sobre o nome escolhido e nada disseram em tempo oportuno. Agora resolveram fazer uma tempestade num copo de água. Por mim, considero que se em vez de "Allgarve" tivesse sido escolhido "Al(l)garve" já nada disto acontecia. A expressão pode não ser a melhor, embora se perceba perfeitamente o sentido e alcance do que se pretende. Mas não vale a berraria que para aí vai. Será que já alguém ouviu esses mesmos senhores queixarem-se pelo facto de no final da A2, no sentido Lisboa/Algarve, haver, há anos, uma menção no pavimento a dizer "Mão Porti" em vez de "Portimão" e de não haver ninguém que proceda à correcção dessa barbaridade? Ou queixarem-se pela falta de limpeza das ruas de Faro, pelo lixo amontoado junto aos contentores e ecopontos, pelos dejectos caninos em zonas pedonais, pelo cheiro a urina junto às escadas do principal parque de estacionamento automóvel de Faro ou pelos restos de comida para cães e gatos à porta de muitas casas? Enquanto alguns algarvios com responsabilidade no estado actual do Algarve não perceberem que a mistura de alhos e de bugalhos não beneficia em nada a região e que a dimensão do seu umbigo é incompatível com o desenvolvimento por que se anseia, será muito difiícil mobilizar gente capaz, competente e trabalhadora para os desafios importantes. E isso só servirá para se continuar a prejudicar a região. Os principais prejudicados serão sempre os algarvios e todos os que escolheram o Algarve para viver e trabalhar.



Em tempo: Atente-se na seguinte passagem do que António Eduardo Ferreira escreveu no Diário Digital:

"(...)Contando que o termo cumprirá os objectivos da acção de promoção, daí não resultará grande dano patrimonial (na língua e cultura). Mas, parece que a ideia não agradou mesmo nada a figuras da administração pública e sectorial da região (Mendes Bota, Macário Correia e Elidérico Viegas).

Ainda que isto baste para que a ideia se considere vendida, não deixa de ser questionável que o Instituto de Turismo (e o ministério que o tutela) tenha – aparentemente - contratado e aprovado sem consultar ou envolver agentes locais nos briefings.

Pudor topónimo à parte, o exercício criativo até resulta imaginativo e inspirador. O conceito, explicam os promotores, pretende significar alegria, diversidade, glamour etc. Tanto All-garve pode até favorecer a região que até já merecia um nome assim (diz-se que há restaurantes que já só disponibilizam ementas em língua estrangeira, mesmo a fregueses residentes).(...)
"

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