O jornal Região Sul publicou hoje, em grande destaque, uma notícia do seguinte teor: "Se o Governo persistir nas suas propostas relativas ao Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL) e não fizer alterações profundas, a melhor opção, para o actual vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de Faro, José Vitorino, será ouvir os algarvios, numa sondagem à população.
O político considera que, sendo a questão "complexa e grave", só a sociedade civil a poderá resolver, uma vez que, na sua opinião, existem, em toda a região, "reservas generalizadas" em relação ao documento, cujo processo de discussão pública termina no final deste mês.
"Se as entidades oficiais persistirem nas suas teses, aceitando apenas pequenas alterações, criar-se-á uma situação de grave conflito ou ruptura entre as entidades oficiais e a sociedade civil", disse Vitorino, hoje, em conferência de imprensa promovida pelo grupo de autarcas "Com Faro no Coração".
A solução passará, então, por pagar a uma empresa especializada para efectuar uma sondagem aos algarvios - precedida da distribuição de mais informação e de debates em todos os concelhos -, dando-lhes três alternativas: se concorda, discorda ou vota em branco. "
Quer isto dizer que o dr. José Vitorino, ex-presidente da Câmara Municipal de Faro, e uma daquelas aves raras que o nosso regionalismo bacoco do pós-25 de Abril se encarregou de pôr cá fora, quer transferir as competências e a legitimidade do Governo nacional para uma empresa de sondagens. Ou seja, como não consegue impor no Protal as alterações que quer, o dr. Vitorino faz um apelo à sociedade civil - será que ele sabe o que significa este conceito da Ciência Política? - para que através de uma empresa de sondagens, nem mais, se pronuncie desfavoravelmente ao Protal e obrigue o Governo a aceitar as suas propostas. Ele só não disse é se estas propostas também incluem as dezenas que foram formuladas há alguns dias atrás pela distrital do dr. Bota.
Depois de ler as declarações do senhor dr. Vitorino, fiquei sem saber se a situação de grave conflito ou ruptura entre as entidades oficiais e a sociedade civil se dará apenas no caso do Governo só introduzir pequenas alterações, que não levem em conta as suas propostas, ou se a realização da dita sondagem resolverá o problema, ainda que a sociedade civil se venha hipoteticamente a pronunciar em sentido oposto ao das suas teses. Repare-se que não se trata de um referendo, mas de uma sondagem.
O dr. Vitorino também não se esqueceu de referir que essa sondagem deverá ser paga e a uma "empresa". Qual e como é que isso irá ser pago também ficou no tinteiro. Mas admito que fazendo ele parte de um grupo de autarcas que tem "Faro no coração", o pagamento saia do bolso dele e da carteira dos seus amigos. Adiantadamente, uma vez que depois da brilhante gestão que fez no Município de Faro, o mínimo que se pode esperar do dr. José Vitorino é que não se comporte como um Alberto João algarvio. É que nem os algarvios são madeirenses, e eles já o provaram nas últimas autárquicas, nem o Algarve é uma república das bananas.
Enfim, quando em política o coração se sobrepõe à razão o resultado só pode ser este. Admira-me é como que a imprensa regional ainda embarca nestes filmes da série C.
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