O Público revela que na manifestação não autorizada, perdão, passeio não autorizado, que uma comissão de militares dos três ramos das Forças Armadas irá promover esta tarde, em Lisboa, no Rossio, são esperados vários oficiais generais. Ao que dizem os promotores do "passeio", trata-se de uma forma de manifestarem o seu descontentamento para com o Governo, contra os cortes orçamentais e a política que tem vindo a ser seguida para o sector.
Ontem mesmo, pude ver e ouvir em todos os canais televisivos, um tal comandante Fernandes Torres, ao que parece oficial da Marinha, a dar uma de chico-esperto. Dizia o sujeito que uma manifestação tem de ter cartazes e palavras de ordem e que aquilo que os senhores pretendem fazer é apenas passear, ao que se supõe fardados, com as respectivas famílias. Pelo Rossio, que é um sítio simpático e cheio de espaços verdes, está claro. Ouvi-o dizer e repetir isto várias vezes ao longo da noite, ciente de que dizia a maior das verdades e esclarecendo, para que dúvida não restasse, que os militares são cidadãos como quaisquer outros, que apenas querem exercer os seus direitos cívicos, e que a não autorização do dito passeio é ilegal e injusta. Ora toma.
Fiquei com dúvidas sobre a sanidade do figurão. O nível do discurso deixou-me pasmado. E, em particular, muito preocupado por saber que nas nossas forças armadas há oficiais como o referido senhor. Além do mais, quando um “comandante” vem para as televisões dizer que os militares são cidadãos como quaisquer outros, é porque não tem a noção do que é um militar nem qual o papel que lhe está reservado numa sociedade democrática. O discurso fez-me recordar os tempos áureos do PREC, com os SUV na rua e a malta do Otelo a jurar bandeira de punho cerrado no Ralis, enquanto os jipes andavam pelo Terreiro do Paço com os tipos aos tiros para o ar.
Tenha pena que um desses oficiais generais, dos que são esperados no passeio desta tarde, não tenha ido, também, à televisão para botar discurso. Se esta malta, a uma quinta-feira à tarde, não tem mais nada que fazer senão ir passear para o Rossio com as famílias, isso é sinal de que continuamos a ter gente a mais nas Forças Armadas e ainda por cima desocupada. O Pinheiro de Azevedo já cá não está para tratar deles. É pena. Com todos os seus defeitos, ele sabia como lidar com essa gente. Espero que os seus sucessores estejam à altura dos acontecimentos.
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