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Quem sou eu que não me esqueço
do que vejo pela rua;
do que vejo em minha casa;
do que vejo quando salto
e atiro olhos à lua?
Decerto, não ameaço,
nem condeno a cega-rega.
Menos, menos, contrafaço
quem, resoluto, se entrega.
Tenho um sorriso pra tudo.
Uma palavra a-propósito.
Um queixume mal ouvido
que me deixa quase mudo.
Quem me vê, vê-se num espelho
e retrai-se, embaraçado.
Eu sigo, parto, regresso
dentro e fora deste mundo.
Quando recolho a casa,
vindo, apressado, da rua,
julgo então que não me esqueço
e atiro olhos à lua.
Eu cumpro a lei do meu fado,
mas, aos poucos, desfaleço
de tanto salto mal dado,
sem saber que o céu me espera,
sem saber que me não lembro.
Ruy Cinatti, in Corpo e Alma
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