quarta-feira, outubro 25, 2006

A PROPÓSITO DAS CONTAS DOS PARTIDOS

O acórdão do Tribunal Constitucional que aponta múltiplas irregularidades e umas quantas verdadeiras ilegalidades às contas dos partidos, respeitantes à última campanha eleitoral para as legislativas, são o espelho fiel deste país, da falta de seriedade dos nossos legisladores, da total ausência de respeito pelos eleitores e da forma displicente como se continua a encarar a vida política e as obrigações que dela decorrem.
Vir agora dizer, como eu ouvi ao comunista Octávio Teixeira, que a lei é inexequível, que o crivo é demasiado apertado, ou, como outros disseram, que os partidos, como o CDS, não tinham estruturas para a fazer cumprir, é no mínimo, um atestado de incompetência emitido em causa própria. Recorde-se que a lei foi aprovada por unanimidade na Assembleia da República pelos partidos que a não cumpriram.
Ao mesmo tempo que um homem sério, simples, ponderado e trabalhador, concorde-se ou não com ele, como o ministro das Finanças, procura conferir justeza, equilíbrio e seriedade à actuação dos poderes públicos em matéria fiscal, moralizando a selva que se instalou, logo os partidos políticos portugueses vêm dar tão triste exemplo.
E como se não fora já demasiado grave e criticável o não cumprimento generalizado da lei, ainda vêm apresentar desculpas de mau pagador.
Recordo aqui uma passagem dessa obra magistral de Daniel Innerarity, que é "A transformação da política", editada em Portugal pela Teorema:
"O que vai contra a política não é a imoralidade, mas a má política. Ainda há, porém, quem pense que a ética política se esgota em impedir a deliquência dos políticos. Aquilo a que chamamos corrupção é apenas um género de delitos exercidos por uma personagem pública: o facto de os não cometer não garante que ele esteja à altura moral de uma verdadeira cultura política. A actual perda de credibilidade dos políticos corresponde menos à corrupção que atenta contra as regras da moral que à vetustez dos usos políticos em cenários que são determinados por tarefas históricas novas. O problema não é a carência de virtudes mas o saber escasso, a pobreza da iniciativa e da imaginação, a indecisão e a rotina, a falta de consciência das novas responsabilidades que as mudanças sociais e políticas trazem consigo".
Eu só acrescentaria mais uma coisa - por muito que o Pacheco Pereira discorde deste tipo de crítica aos políticos: a confrangedora indigência ética e moral desta gente.

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