quarta-feira, abril 03, 2013

Hoje escreve o José Gomes André

Com a devida vénia, tomo por empréstimo para aqui vos deixar as geniais e incontornáveis palavras que José Gomes André deixou numa casa onde já morei e continuo a ter bons amigos.
Na hora crítica que o País atravessa, com uma crise económica, financeira e social nunca vista em democracia, com um Governo à deriva e perfeitamente esfrangalhado, errando por aí como um náufrago sem tábua onde se agarrar e com um primeiro-ministro que quer transformar o Tribunal Constitucional numa filial do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças, ainda há mainatos sem o mínimo tino a organizarem números de circo. Felizmente que também ainda há quem sem estar comprometido com o passado nem depender do presente continue a ter os olhos no futuro.  

"Nasceu uma nova estrela. Um tal de Miguel Gonçalves, que Miguel Relvas (e quem mais?!) viu no Youtube e convidou para "embaixador" do "Impulso Jovem" (só esta frase já provoca um asco de morte). À semelhança de outros fenómenos da nossa praça, distingue-se pela "irreverência", pelo discurso "positivo" e por outras coisas que vêm sempre juntas neste tipo de pacote ("dinâmico", "criativo", "pró-activo", etc. - é ouvir o dito cujo).
O problema de Miguel Gonçalves não é a referida "personagem", mas o facto de os seus dislates reproduzirem um discurso público cada vez mais difundido e aceite acriticamente pelos media, pelos governantes, pelas elites e pela população em geral. Discurso esse que mistura o pior do "darwinismo social" (o elogio do conflito social e a glorificação da lei do mais forte), um moralismo pseudo-científico de pacotilha (que condena os que sucumbem, imputando-lhes a culpa do seu "insucesso") e os elementos mais abjectos do novo totalitarismo linguístico "made in Wall Street" (que apela ao "empreendedorismo", à "reinvenção pessoal", ao "acreditar em si próprio" e ao "tornar-se senhor do seu destino").
Em suma, estamos perante um discurso político, social e económico que combina as inanidades de livros como "O Segredo" ("tu podes ser quem quiseres") com a profundidade da reflexão filosófica de um Zézé Camarinha. O pior de tudo isto? É que este discurso tem tanto de disparatado quanto de perigoso. Denunciá-lo já não é uma simples questão de bom-senso; é um dever de todos os homens civilizados."

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