sábado, janeiro 26, 2013

Sim, senhor ministro

 
Não há nada como "ser visto e ser ouvisto pelos portugueses" na televisão pública. Abençoada RTP.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Leituras (3)

 
"Hoje é costume desdenhar-se o Estado-providência do século XX como europeu e 'socialista' - geralmente em formulações como: "Creio que a história registará que foi o capitalismo chinês que pôs fim ao socialismo europeu". Pode ser europeu (se admitirmos para este efeito que o canadá, a Nova Zelândia e - no que toca à segurança social e ao serviço nacional de saúde para a terceira idade - os EUA são todos 'europeus'); mas 'socialista'? O epíteto mais uma vez revela uma curiosa ignorância do passado recente. Fora da Escandinávia - na Áustria, Alemanha, França, Itália, Holanda e outros países - não foram socialistas mas democratas-cristãos os principais responsáveis pelo estabelecimento e administração das instituições fulcrais do Estado-providência activista. Até na Grã-Bretanha, onde no pós-II Guerra o governo trabalhista de Clement Attlee inaugurou de facto o Estado-providência como então o conhecemos, foi o governo de tempo de guerra de Winston Churchill que encomendou e aprovou o Relatório de William Beveridge (ele próprio um liberal), que estabeleceu os princípios do fornecimento da providência pública: princípios - e práticas - reafirmados e garantidos por todos os governos conservadores que se seguiram até 1979.
 
O Estado-providência, em suma, nasceu de um consenso transpartidário do século XX. Foi implementado, na maioria dos casos, por liberais ou conservadores que haviam entrado na vida pública muito antes de 1914, e para quem o fornecimento de serviços médicos universais, pensões de velhice, subsídios de desemprego e doença, educação gratuita, transportes públicos subsidiados, e os outros pré-requisitos de uma ordem civil estável, representavam não o primeiro estádio do socialismo do século XX mas o culminar do liberalismo reformista do fim do século XIX. (...)

Não é só a natureza que tem horror ao vácuo: as democracias em que não existem escolhas políticas significativas a fazer, onde a política económica é agora grandemente determinada por actores não políticos (bancos centrais, agências internacionais, ou empresas transnacionais) - podem ou deixar de ser democracias funcionais ou conciliar uma vez mais a política da frustração e do ressentimento político."   

Leituras (2)


 
Um clássico incontornável para quem quem aspira a saber alguma coisa sobre partidos políticos, aqui na versão espanhola de 2005, da Alianza Editorial, com um prefácio de Peter Mair.

Ciclo de Conferências ISCTE-IUL

sexta-feira, janeiro 18, 2013

A luta continua, diz VPV

 
O problema, como todos já perceberam, não é de má comunicação ou de falta de coordenação. É difícil dizer que se comunica mal quando não se tem nada para dizer. Ou falar de falta de coordenação quando reina a auto-gestão. Como bem escreve Vasco Pulido Valente, com a habitual classe e secura de superlativos, a conferência no palácio Foz foi "um proverbial incitamento à loucura e à asneira". Bem estiveram, por isso mesmo, António Vitorino e Correia de Campos ao recusarem o convite para abrilhantarem o baile. É que depois do que Philipe Riès escreveu no Orange Finances sobre o Presidente da República e a trupe que se promoveu à sua sombra, não há reputação que resista.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Leituras (1)

 
"Au fond, la crise de l'engagement politique de la fin des années quatre-vingt et du déclin des années quatre-vingt-dix n'est pas aussi surprenante qu'on veut bien le dire. Elle s'enracine dans cette difficulté du système politique à répondre aux nouvelles demandes des citoyens et non dans une subite et radicale dépolitisation de ceux-ci. La crise de l'engagement n'est pas le signe d'une mort prochaine du politique. Ell est, en fait, une crise de mutation où de vieilles modalités d'engagement meurent et de nouvelles cherchent à naître." - Pascal Perrineau

terça-feira, janeiro 15, 2013

In memoriam


Soube há pouco da partida do João Carvalho, graças a uma nota da Leonor Barros e a mais um excelente texto do Pedro Correia.
Quando um amigo se vai embora, como refere o Pedro, há muito pouco para dizer. Mas eu, que tive a sorte de conhecer o João Carvalho e de disfrutar da sua companhia, não podia neste momento ficar calado e guardar em silêncio décadas de amizade, de boa convivência e camaradagem.
Conheci-o graças aos gosto pelos jornais e à circunstância de termos amigos comuns. Durante algum tempo reuníamos regularmente em animados jantares em casa da N. e do J., onde falávamos de política, de cultura, de cinema, de viagens, de motas e de carros clássicos, enfim, de tudo um pouco.
Depois, quando regressei a Portugal, soube que ele estava no STJ e acompanhava o saudoso Aragão Seia. Mais tarde voou para os Açores onde foi exercer funções no gabinete do Ministro da República, mas apesar da distância retomámos o contacto. Encontrámo-nos algumas vezes. Poucas para aquelas que seriam desejáveis, sendo que a última vez que estive com ele foi num jantar do Delito de Opinião, no Museu do Oriente. Mas íamos comunicando via e-mail, sms e telefone.
Quando fui a Braga tive notícia de que ele estaria em Gaia e quis visitá-lo antes de regressar a Lisboa. Em vão. O João já estava de volta aos Açores e ao seu posto.
Na dolorosa hora em que tomei a decisão de deixar de escrever no Delito de Opinião foi com o João com quem falei. Ele compreendeu as minhas razões. E registou-as.
Quaisquer que fossem as circunstâncias, o João era sempre um interlocutor à altura. Pelo seu saber, pela sua educação, pela sua boa disposição, pela sua frontalidade, pela amizade que colocava em cada gesto, e, acima de tudo, por um inestimável sentido da vida e uma lucidez desarmante.
Gostava de ter podido rever o João, mas não quis a vida proporcionar-me mais esse momento de convívio, nem que o pudessemos continuar a ler com gosto. 
Sei que um dia vou encontrar o João. Como sei que o mesmo acontecerá com muitos outros amigos que nos foram deixando ao longo do caminho que diariamente percorremos. E também sei que só nessa altura vou poder dizer as palavras que a escrita não consente. Mas até lá, até esse dia, não poderia ficar a dever mais estas palavras ao João, tendo como tenho a certeza de que os meus textos não deixarão de ser revistos e as minhas gralhas continuarão a ser assinaladas por ele com a boa disposição de sempre. Ainda que as correcções já não venham com um sms a avisar.  

P.S. João, penso que o Alfa da fotografia era aquele que tu querias ter.     

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Entrar com o pé esquerdo

Sem qualquer novidade, e tão previsível quanto seria de esperar, o Presidente da República voltou a mostrar na sua mensagem de Ano Novo que o fato que veste o incomoda. Ainda não se percebeu se é nas mangas se nas costas, mas que ele que se sente desconfortável parece óbvio. 
Que 2013 irá ser um ano difícil não constitui novidade para ninguém. Que o OE de 2013 contém um forte aumento de impostos igualmente. Que 90% dos deputados apoiam ou apoiaram o programa de assistência financeira idém. Que uma crise política nesta altura seria pouco ajuizada e que se não for declarada a inconstitucionalidade de algumas normas do OE haverá alguns que serão mais prejudicados do que outros também.
Uma vez mais o Presidente da República quis demarcar-se do Governo sem se demarcar. Tudo como dantes, tudo demasiado teatralizado, tudo sem uma palavra nova, quase que se diria de tão pobre que foi um discurso de agradecimento pelo que se passou em 2012.  
Depois, na mesma linha de previsibilidade foram as reacções dos partidos. Mas houve uma que pelo seu significado não poderá passar sem ser devidamente assinalada. Refiro-me à do Secretário-Geral do PSD, Matos Rosa.
Desde logo pelo facto de ter sido um deputado apagado da segunda linha do PSD, um burocrata do aparelho, o sucessor de Miguel Relvas, a "comentar" a declaração do Presidente da República. Se o PSD e Passos Coelho pretendem continuar a desvalorizar as intervenções do PR, Matos Rosa será seguramente o homem indicado para tal.
E essa desvalorização, para não dizer acinte, foi tão notória que o "comentário" era afinal a leitura monocórdica, trapalhona e pontuada de engasgos, de um "lençol" pobre e confuso, previamente preparado e sem direito a perguntas por parte dos jornalistas.
Atento o tempo que mediou entre o final da declaração do PR e a leitura do "comentário" por parte de Matos Rosa, é evidente que a reacção do PSD já estava escrita há muito tempo.
Daí que, também, seja absolutamente incompreensível que tendo o Governo levado um apertão do PR sobre as opções do OE e se tivesse ficado a saber de viva voz que aquele levantava fundadas dúvidas sobre um documento socialmente desequilibrado e que culmina uma "espiral recessiva", o PSD tivesse vindo dizer que estava de acordo com o PR e que subscrevia as posições deste.
Pela maneira como começou, o ano político do PSD de Passos Coelho não só não augura nada de bom, como ainda por cima entrou com o pé esquerdo. Dir-se-ia mesmo que o comunicado lido por Matos Rosa foi tão infeliz que será de admitir ter sido escrito pelo anterior secretário-geral antes deste ir lançar foguetes para o réveillon do Rio de Janeiro. Noutras circunstâncias teria sido hilariante. Assim, como aconteceu, foi mais um prego no caixão da credibilidade e da seriedade da política e deste PSD.