quinta-feira, março 15, 2012

Um texto notável de Stefano Rodotà

Tem por título "Questão moral, último acto" e foi publicado no La Repubblica de segunda-feira passada, dia 12 de Março. Li-o no avião e estava a ver como seria possível digitalizá-lo para o levar até vós quando percebi que o seu impacto foi tão grande na sociedade italiana que é possível lê-lo em vários locais, da resenha de imprensa do Ministério da Defesa italiano até à página do Partido Democrático, passando por inúmeros blogues e páginas de jornalistas. Mais importante, ainda, porque o autor não se esqueceu de sublinhar as palavras do cardeal Tettamanzi ao deixar a importantíssima diocese de Milão: a de que nada se aprendeu com a operação Tangentopoli porque a questão moral continua a ser decisiva.
As semelhanças entre o que aconteceu em Itália e o que de há uns anos a esta parte se vive em Portugal exige que prestemos muita atenção ao que ali se passou e ao que Rodotà escreveu. Basta ver o que sucedeu entre nós com as PPP, com as obras públicas clientelares, que tiveram o tiro de partida com Cavaco Silva,  com o que está a acontecer com a Saúde, com o que se passa na Justiça, em que até o partido das becas, corroído pela despeita e o acinte, já acciona ex-ministros, alegadamente por causa de gastos ilegais, esquecendo-se de que dessa forma se está a violar de forma flagrante o princípio basilar da separação de poderes. Enfim, tendo presentes os pagamentos à Lusoponte, as justificações dadas por um impante "chico-esperto" e a ignorância do primeiro-ministro sobre a matéria, até às ligações de alguns ministros aos negócios com Angola, não se poderá deixar de ler e reflectir sobre o que Rodotà escreveu.
E se é certo, como ele diz, que nenhum político pode hoje invocar falta de informação, não é menos certo que "a ética pública não tem o seu fundamento apenas no Código Penal". O dever da politica, como ele refere, passa pela reconstrução da moral pública e ela deverá ser inflexível consigo própria se quiser reconquistar a confiança dos cidadãos. Tão simples quanto isto.

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