quarta-feira, janeiro 28, 2009

FAZER DOS OUTROS PARVOS

Dias Loureiro, ilustre conselheiro de Estado, esteve ontem na Assembleia da República para ser ouvido pela comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN e não desiludiu quem o quis ouvir. Depois da entrevista que havia dado a Judite de Sousa, em que quis fazer dos telespectadores palermas, voltou a bater nas mesmas teclas, mas agora perante os deputados. Eu não sei se algum deles acreditou numa palavra que fosse de Dias Loureiro, mas ele mais não fez do que se desqualificar. Loureiro, embora fosse administrador executivo, demorou um ano e meio a perceber que o BPN era gerido como uma mercearia e depois de ser tratado como verbo de encher - "sem nenhuma função", disse ele - por Oliveira e Costa, ainda ficou mais uns anos como administrador não-executivo. Certamente que o fez para ver se compreendia o "modelo de gestão one-to-one" do banco e se aprendia alguma coisa. Era, como ele próprio disse, um "tempinho" aqui, um "tempinho" ali e nada de reuniões, nada de actas. Ficou preocupado, diz ele, mas como se sabe agora não agiu em conformidade com a sua preocupação. Limitou-se a pedir "explicações" a Oliveira e Costa e ficou satisfeito com as que lhe foram dadas. As empresas, tal como as suas dúvidas, evaporaram-se num ápice, mas ele aceitou a explicação para a sua evaporação. Enquanto o diabo esfregava um olho elas passaram do estado sólido ao gasoso. Vai daí, Loureiro fez a mala e em vez de denunciar a escandaleira e bater com a porta, que era o que qualquer homem que se preze faria, estacionou na prateleira do lado. Por mais um "tempinho", onde sempre ia "pingando" mais algum. Dias Loureiro, para além de ter violado os seus deveres para com os accionistas da instituição e o regulador, já que lhes devia ter transmitido - por escrito para que não restassem dúvidas e porque as palavras são levadas pelo vento - oportunamente as suas preocupações e alertado para o que se estava a passar, comportou-se como um qualquer pacóvio oportunista disposto a silenciar e a dobrar a cerviz perante um merceeiro para poder garantir uma tença. Optou pelo caminho mais cómodo e mais fácil, o que não é admissível num homem com a sua craveira intelectual e percurso político. Foi lamentável. Se já tinha sido um mau administrador, agora fica a certeza de que não pode ser bom conselheiro de Estado. A mim bastou-me um "tempinho" para o perceber. As declarações de ontem só vieram confirmá-lo.