sexta-feira, julho 31, 2009

1000 KM DO ALGARVE

Este fim-de-semana há corridas a sério no Autódromo de Portimão. O programa completo inclui Fórmula Le Mans, Fórmula Renault 3.5, corridas da Seat Supercopa León e as tão aguardadas Le Mans Series. Vai ser a primeira corrida nocturna. Amanhã a partir das 19.15, com termo previsto para 6 horas depois. Entretanto, o melhor tempo nacional na categoria de LMP1, 3º da geral, é do Tiago Monteiro que faz equipa com o Bruno Senna, no Oreca AIM, que fez 1.32,844. Quem me quiser encontrar por estes dias é passar por lá. Algures entre as boxes e o paddock estarei visível. A não perder.

BOBBY ROBSON

(foto do Correio da Manhã)
Morreu um homem que sabia de futebol. Um cavalheiro como poucos. Um amigo de Portugal e do Algarve. A gente séria do futebol vai sentir a sua falta. Em St. James Park pairará sempre a sua memória.

UM FARENSE DE GEMA

João Soares, um farense de gema, vai encabeçar a lista do PS por Faro. Não está em causa o mérito do escolhido, pessoa por quem nutro simpatia, amigo de amigos, homem sério, excelente autarca e pessoa de bom senso, mas apenas a forma como continuam a ser escolhidos os cabeças de lista do partido para as legislativas. Não tenho dúvidas de que ele tenha ligações à região. Ele e mais 10 milhões de portugueses.

COERÊNCIAS

Hoje as coerências passaram para aqui e são sobre a decisão do Tribunal Constitucional.

PACIÊNCIA

Ainda há duas semanas criticava Jorge Jesus dizendo entre um misto de inveja e acinte que na época passada o Braga podia ter ido mais longe. Ontem, ele próprio estreou-se na Liga Europa e fê-lo com uma derrota em casa por 2-1 frente a uns fraquíssimos suecos que, apesar de tudo, fizeram dois belos golos. Domingos Paciência é apenas mais uma daquelas personagens criadas no FC Porto de Pinto da Costa e a quem falta tudo. Não admira, pois, que o Braga tenha começado com o pé esquerdo.

quinta-feira, julho 30, 2009

GESTÃO À VISTA DA COSTA

Estamos a menos de dois meses das eleições legislativas, facto de que muitos, certamente, ainda não se deram conta. O estio e as suas elevadas temperaturas ajudam as pessoas a esquecer a realidade. Mesmo quando se fazem férias "cá dentro", o cansaço contribui para uma certa letargia, para um certo desprendimento. A crise trouxe consigo a dolência e torna-se demasiado pesado ouvir debates, ler programas eleitorais e acompanhar os sound bytes. Depois, casos como o do Avastin e dos doentes do Santa Maria acentuam o desinteresse pelo que se vai ouvindo. Talvez por isso mesmo é que o PSD tarde em apresentar o seu programa eleitoral. Pode ser que também faça parte da estratégia, mas para um partido que está na oposição e que há anos se prepara para ir a votos e tentar destronar o PS de José Sócrates, o normal era que tivesse posto cá fora antes de férias o seu programa. Mas não. Nada disso aconteceu. Em vez de apresentar um programa, o PSD desdobra-se em iniciativas avulsas, preferindo lançar frases inconsequentes, sem que se veja alguma coisa de consistente. Sabendo-se que Agosto é mês de férias, ou, pelo menos, que é aquele em que mais gente está fora dos seus locais habituais e pouco virada para a discussão política; sabendo-se, igualmente, que Agosto é o mês em que o futebol começa a mexer e que a seguir virá Setembro e a preparação do regresso às aulas para a maior parte das famílias; pergunta-se quando é que o PSD pretende tornar conhecido o seu programa e as ideias que defende? Quando estará a pensar debatê-las com os portugueses e os seus concorrentes? A "estratégia" que até agora tem sido seguida pelo PSD, onde se mistura o "rasganço" de tudo o que está para trás com o apoio ao carnaval jardinista, a crítica à coligação do PS em Lisboa ao mesmo tempo que se fazem mais de 60 coligações no resto do país, o elogio da política social do Governo e a defesa de uma menor tributação, sem que se explique ao país as contradições e a forma como tudo isso irá ser gerido por um hipotético futuro governo do PSD, demonstra bem que para o PSD é mais interessante manter a pressão mediática sem qualquer programa do que apresentar um programa e discuti-lo a tempo e horas. Um programa não rende votos. O carnaval mediático pode render. A poncha pode ser mais compensadora do que o vinho do porto. Sem propostas e sem ideias que se dêem a conhecer, o estilo Ferreira Leite começa a ser cada vez mais parecido ao estilo Santana Lopes. Aquilo que aparentemente os separava foi, afinal, aquilo que mais os aproximou: a gestão à vista da costa. Da costa, é certo, mas também do Costa. Do António, evidentemente, não vá o diabo tecê-las.

quarta-feira, julho 29, 2009

SONHOS VERMELHOS


Esta é a nova berlina de Maranello, em exclusivo para os leitores d' O Bacteriófago. Será apresentada em Setembro no Salão de Frankfurt. Saído do traço de Pininfarina, beneficiou da experiência na F1. Tem 570 cavalos e vai dos 0km aos 100km em 3,4 segundos. Velocidade máxima: 325km/hora. Como afirmou Luca di Montezemolo, o Ferrari 458 é um tributo à Itália e às suas características únicas. Eu não duvido.

segunda-feira, julho 27, 2009

AL DI MEOLA

Depois de um grande concerto só mesmo um grande disco para nos prolongar o prazer. Como não há rosa sem espinhos, só é pena que as casas de banho do Allgarve Jazz, colocadas pela Câmara Municipal de Loulé, não tenham luz, água ou sabão para lavar as mãos. Mas têm avisos por causa da gripe A e da necessidade de se lavar as mãos. Alguém entende isto? Notável.

CRITÉRIOS

Li a notícia num jornal qualquer e depois confirmei-a aqui.Não sei qual foi o critério da escolha, mas depois de em tempos terem ido uns quantos a Bruxelas (conheço bem a cidade e o Parlamento Europeu e ainda lá estive há menos de um ano, por isso não precisava de lá voltar), mas gostava de percebê-lo. Quem escolheu quem?

sexta-feira, julho 24, 2009

COERÊNCIAS

Quando percebi que Miguel Vale de Almeida ia ser incluído nas listas do PS para as legislativas em lugar elegível, confesso que fiquei logo à espera que isto acontecesse. Não sei quem é tem mais culpa: se José Sócrates, se os seus leais e subservientes conselheiros ou se o Partido que silenciado atrás do líder permitiu que chegássemos até aqui. Só me admira não terem também incluído Joana Amaral Dias para que a novela fosse de estalo. É o que se chama uma lista fracturante. Vamos ver se em Setembro a fractura (talvez antes a factura) não será total. Nessa altura cá estarei.

quinta-feira, julho 23, 2009

LEMBRANÇAS DE MAZARIN

"Exclui da tua companhia os avaros, que são servis por natureza";

"Nunca te armes em defensor de medidas demagógicas";

"Não convivas com tagarelas, essas calamidades que passam o tempo a repetir aos quatro ventos tudo o que se diz";

"Não imagines que foram as tuas qualidades pessoais e o teu talento que te conseguiram um cargo. Se julgas que vais obtê-lo pela simples razão de que és mais competente, não passas de um tolo. Pensa que se prefere sempre confiar um cargo importante a um incapaz a dá-lo a um homem que o merece";

"É difícil não perder a cabeça contra os que prometeram resolver um assunto importante dentro de um prazo fixo e são ultrapassados pelos imprevistos. De modo que o melhor é não exigir esse género de promessas".

A ARTE DE SER INDISPENSÁVEL

"A responsabilidade (accountability) não funciona através dos órgãos do partido, mas apenas através do juízo do eleitorado sobre a acção do primeiro-ministro. O partido, por isso, não parece existir como uma entidade autónoma, mas apenas como um instrumento ao serviço do líder, o qual pode recorrer aos laços directos com os filiados e com os eleitores para legitimar o seu controlo sobre a acção do governo".

No dia em que Manuel Alegre se despede do parlamento, este livro do Marco é de leitura indispensável para quem queira conhecer um pouco melhor a minha agremiação e perceber esta agitação toda que anda no ar.

O MELHOR SOM DESTE VERÃO

Esta é uma das minhas propostas musicais para este Verão. O som aberto, melodioso e profundamente livre de Jason Mraz. Para ouvir ao final da tarde com a melhor das companhias. De antologia é esta versão de Lucky com Ximena Sariñana.

quinta-feira, julho 16, 2009

ROMA

(Anita Ekberg, La Dolce Vita)

Homenagem a Roma, às suas mulheres, a Fellini e a um tipo que vai a caminho da Croácia e que ontem à noite teve o desplante de me telefonar para me dizer que as pedras da Fontana di Trevi estavam a ferver e ele não percebia porquê. Espero que agora perceba.

DISTRACÇÕES

"O PSD preparava-se para votar contra o Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente (PUALZE) na reunião de ontem da Assembleia Municipal de Lisboa mas foi confrontado pela sua presidente com um facto surpreendente: afinal a votação já tinha decorrido há uma semana e o partido abstivera-se, permitindo a viabilização da proposta do vice-presidente da câmara.

"Houve um mal-entendido do PSD naquilo que foi posto à votação na semana passada", justificou aos jornalistas o líder da bancada social-democrata, admitindo que em '20 anos' de experiência na assembleia nunca lhe tinha acontecido algo semelhante (...)
". - cfr. Público, 15/07/09, p. 27.

Esta curta transcrição do texto da jornalista Inês Boaventura diz bem da atenção com que a bancada do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa exerce as suas funções. Mas é natural que de tão preocupados que estão com as coligações que António Costa anda a fazer depois se distraiam com o seu próprio trabalho.

quarta-feira, julho 15, 2009

UMA CIDADE DE FUTURO


Por falar em Faro, estas são imagens do projecto promovido pela Câmara Municpal de Faro e produzido pela Parque Expo para requalificação da frente ribeirinha. Quem tiver dúvidas sobre o que está em marcha e se pretende fazer neste local pode fazer a comparação com o que lá está hoje. É, pois, natural que o Engº Macário Correia, que desde 1998 esteve à frente da Câmara de Tavira e não conseguiu fazer a marina que tanto prometeu, venha agora para Faro prometer aquilo que outros andaram a preparar. Na hora das fotografias todos se querem chegar à frente.

BOM CINEMA EM FARO

Ao mesmo tempo que a iniciativa privada fecha 3 salas de cinema no centro da cidade, a Câmara Municipal de Faro prossegue a sua aposta na divulgação cultural. O pequeno auditório do Teatro das Figuras inaugurou ontem os seus ciclos temáticos. Até 17 de Julho decorrerá o ciclo de cinema asiático. A estreia foi com muito calor e sala cheia, sinal de que o público sabe distinguir um bom filme de uma pastelada. Começou com o imprescindível Dreams de Akira Kurosawa. Hoje, por apenas € 2,00, poderá ver Dolls de Takeshi Kitano, seguindo-se amanhã o 2046 de Wong Kar Wai e na sexta-feira, a encerrar o ciclo, Duelo sem fim, do coreano Lee Myung-se. Entretanto, nos claustros do Museu Municipal, numa organização conjunta do Cineclub de Faro e da C.M. Faro, decorre o ciclo de cinema ao ar livre dedicado aos "Amigos Americanos". A primeira película foi exibida no dia 13 e terá sequência todas as segundas-feiras, até 10 de Agosto, sempre às 22h. Entre as obras escolhidas vão estar algumas pérolas como Gran Torino (Clint Eastwood), A dúvida (John Patrick Shanley), O Leitor (Stephen Daldry) e Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen). Quem não via as diferenças entre José Apolinário e Macário Correia, tem agora mais uma oportunidade para perceber por que razão uma aposta cultural de qualidade e acessível a todos não se pode confundir com o mau gosto pimba e o oportunismo básico da mensagem jardinista.

terça-feira, julho 14, 2009

JÁ JOGAM O DOBRO!

Quem o diz é A Bola, e eu que até vi o jogo de ontem não tenho razões para duvidar. Espero que o Quique Flores e o Miguel Sousa Tavares também tenham visto. O primeiro para ver se começa a conhecer melhor os jogadores e o segundo para perceber as palavras do Jorge Jesus. É que marcar dois ao Sion e mais dois secos ao detentor da taça UEFA não é propriamente o mesmo que marcar três ao... Tourizense.

sexta-feira, julho 10, 2009

ABSOLUTAMENTE IMPRESCINDÍVEL

"E quanto a personalidades susceptíveis de obrigar os partidos do centrão a repensarem-se, há muitas, na universidade, mas não só, na imprensa, na vida económica e na sociedade em geral; até nos partidos, mas fora das clientelas e do carreirismo partidário."

A entrevista que este senhor deu ao i é absolutamente imprescindível. Convém ler, reler e meditar, mesmo quando se está em desacordo, porque este é um homem de esquerda que pensa pela sua cabeça. Ah!, e já me esquecia, cheguei até ela graças a um post de um tipo inteligente, assumidamente de direita e em cujos textos, na maior parte das vezes, não me revejo: o João Gonçalves, do Portugal dos Pequeninos. Aqui fica o agradecimento.

ESQUIRE

Uma boa revista, bem impressa, com bom papel e bem escrita, sempre foi uma das minhas perdições. A Esquire deste mês de Julho não foge à regra, mas para além disso o seu site está magnífico. Para além de óptimos artigos, da Drinks Database e dos melhores bares da América, tem ainda a Women We Love Gallery, um hino à beleza que é de cortar a respiração. Este mês também podemos aprender a fazer uma magnífica pie com a Mary-Louise Parker. Duvido que haja melhor maneira para começar um fim-de-semana à beira-mar e preparar a estreia do SLB em Sion.

G8 WITHOUT COMMENTS


UMA AGULHA NO PALHEIRO

Isabel Meirelles, a candidata oficial do PSD designada para liderar a lista à Câmara Municipal de Oeiras, ao ser ontem entrevistada sobre a sua escolha, depois de múltiplas outras que vacilaram pelo caminho, esclareceu, assim justificando a decisão do partido depois de já haver cartazes a anunciarem outro nome, que "não se encontra um bom candidato à primeira". Pois não, às vezes até nunca se encontra. Desta vez, porém, pelo tom colorido do sorriso, parece que o PSD encontrou no seu palheiro a agulha que procurava. Pelo menos em simpatia Isaltino Morais vai ter uma adversária. Se não for possível dizer que é uma candidata à sua altura, ao menos será à sua largura.

quarta-feira, julho 08, 2009

EFEITOS COLATERAIS

Depois de ouvirmos os insultos dentro da Assembleia da República, era apenas uma questão de dias para que os ouvíssemos também do lado de fora. Se o deputado José Eduardo Martins pode mandar repetidas vezes um colega "pró c....", se um ministro pode oferecer um par de cornos a um deputado, se os professores insultam o primeiro-ministro, se os polícias fazem o mesmo, certamente que ninguém esperaria que o nível do discurso fosse elevado pelos estivadores. Prevejo agora que o PCP do camarada Jerónimo e a obediente CGTP venham manifestar a sua compreensão pelos insultos e, já agora, divulguem os salários dessa malta, o número de horas de trabalho e os demais elementos que permitirão o país aferir a respectiva produtividade e a razão de ser da sua indignação.

terça-feira, julho 07, 2009

RELATÓRIO BPN

Para quem se interessa por estas coisas e gosta de andar informado antes de botar opinião, pode ler aqui, na íntegra, o relatório preparado pela relatora da "Comissão de Inquérito sobre a situação que levou à nacionalização do BPN e sobre a supervisão bancária inerente" (só o nome da comissão já cansa) e que muito previsivelmente vai ser chumbado pela oposição. O normal.

BERLUSCONI SERVICES INC.

"Preparations for Wednesday's G8 summit in the Italian mountain town of L'Aquila have been so chaotic there is growing pressure from other member states to have Italy expelled from the group, according to senior western officials.". O resto do elucidativo artigo do Guardian pode ser lido aqui.

JÁ TOMOU POSSE

Seis. Era este o número de canais portugueses (RTP1, SIC, TVI, RTPN, SICN, TVI24), que ontem por volta das 20 horas transmitiu a tomada de posse de Cristiano Ronaldo. Perante estes números, a Dr.ª Manuela Ferreira Leite deve ter percebido que o TGV se poderá pagar mais depressa do que ela supunha e que a venda de umas quantas acções da TVI à PT não deveria fazer grande mossa à liberdade de informação. À mesma hora a RTP2 dava um jogo de hóquei em patins. Assim vai o país.

segunda-feira, julho 06, 2009

REPORTAGENS PARA MENTECAPTOS

Quem veja e ouça as reportagens que as televisões - todos os canais sem excepção - têm realizado a anteceder a apresentação de Cristiano Ronaldo no Estádio Santiago Bernabéu não poderá deixar de ficar com a sensação de que elas se dirigem a mentecaptos. O nível das respostas tem acompanhado o nível das perguntas e estas dizem tudo sobre algum do mau jornalismo televisivo que se faz em Portugal. Perguntar a jovens adolescentes que passam horas a fio sentadas à porta de um estádio de futebol, num portunhol rasca, se querem casar com o seu ídolo, se o rapaz é bonito, qual o número que terá na camisola ou o que esperam dele, é pura inanidade. Quando esse exercício imbecil se prolonga durante dezenas de minutos, abre os noticiários e justifica a mobilização de múltiplos meios, como se a apresentação (nem sequer é um jogo) de um jogador de futebol o justificasse, talvez seja de começar a pensar que alguém enlouqueceu. Como da parte dos partidos políticos ninguém se manifestou até agora, presumo que estão todos de acordo com o espectáculo. Não sei se esta constatação não será bem mais gravosa para a saúde mental deste país do que o par de cornos, salvo seja, que Manuel Pinho ofereceu a Bernardino Soares na Assembleia da República e que tanta histeria provocou.

sexta-feira, julho 03, 2009

MEMÓRIA DE ELEFANTE

Não se trata do livro de António Lobo Antunes, mas do oportuno post que os Papéis de Alexandria, por compreensíveis razões, publicaram. Não subscrevo o texto e não concordo com o argumentário dele constante. Mas num país sem memória e sem coerência, seria bom que alguns responsáveis políticos o relessem.

HÁ SEIS ANOS A FALAR PARA OS PEIXES

Já lá vão mais de 6 anos, mas por manter actualidade, por coincidir com a demissão de Manuel Pinho e com a comparação que Alberto João Jardim fez do Governo da República à Máfia, e visto que ainda hoje escrevi sobre isso no Delito de Opinião, aqui fica o que há mais de seis anos escrevi no semanário Ponto Final, expurgado das partes do texto que apenas diziam respeito a Macau e com a constatação de que alguns dos que então eu ainda considerava titulares de alguma dignidade retórica terem, entretanto, ficado pelo caminho:

A IMPORTÂNCIA DA CREDIBILIZAÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO

Tenho observado, com um misto de incredulidade e estupor, a forma como alguns dos protagonistas da vida pública (...) se mimoseiam entre si no confronto cívico e político. Não raras vezes o discurso raia o insulto soez, talvez o reflexo de uma aprendizagem pouco comprometida com as regras da democracia.

De Dahl a Luhman, de Sartori a Juan Linz ou de Aron a David Held, têm sido inúmeros os politólogos que se têm ocupado da definição dos critérios mínimos da democracia. E se parece aceite que a competição entre diferentes propostas, partidos e candidatos é uma virtude única dos sistemas constitucionais democráticos, também se evidencia que a competição tem de obedecer a regras previamente definidas e aceites por todos dentro de um patamar de liberdade e respeito sem o qual a democracia não funciona.

Todavia, não basta que tal patamar de liberdade e respeito seja alcançado para a democracia se afirmar, se esse desenvolvimento não for acompanhado, concomitantemente, de uma elevação e credibilização do discurso político e da sua prática. Uma e outra coisa são indissociáveis.

A afirmação de um discurso político linear e coerente por parte dos actores políticos e de todos aqueles que aspiram a uma intervenção de cariz cívico é o primeiro passo para garantir uma maior participação dos cidadãos e a indispensável credibilização de um sistema político democrático. Mesmo em escalas quase microscópicas.

Raymond Aron ao alinhavar as virtudes modernas do funcionamento dos regimes constitucionais pluralistas elencou três: o respeito pelas leis, a existência de opiniões próprias e o sentido do compromisso. E esse mesmo autor recordou a lição de Platão, segundo a qual, muito embora seja por vezes difícil manter o equilíbrio em todos os momentos entre todas as componentes do sistema, era pelo menos fundamental que a democracia não se corrompesse, sendo que a degenerescência dos regimes começava quando os governantes se comportavam como governados e os governados como governantes. Por vezes é mais fácil do que parece chegar a esse ponto.

Um dos primeiros indicadores do nível de uma democracia é dado pelo discurso político. A sua análise e o resultado das percepções deste no conjunto dos cidadãos é susceptível de revelar o grau de preparação ou impreparação dos dirigentes, a natureza das preocupações destes e, ainda, o maior ou menor grau de aceitação do discurso pelos respectivos destinatários.

(...)

Em Portugal, é hoje indiscutível que o discurso político tem constituído, pese embora algumas excepções, um poderoso estímulo à não participação dos cidadãos na vida democrática e um factor de descredibilização dos políticos e do sistema. Basta atentar no discurso de homens como Guterres, Guilherme Silva, Alberto João Jardim, Carlos Carvalhas, Paulo Portas, Isaltino Morais, Santana Lopes, Freitas do Amaral ou Mário Soares, para já não falar de muitos dos autarcas ou até do próprio Jorge Sampaio, para se perceber algumas das razões por que os políticos estão tão mal cotados na bolsa das profissões. Um estudo recente colocava-os no fim da escala, sendo o primeiro lugar ocupado pelos... bombeiros. Nem mais. Antes bombeiro que político.

Para que melhor se perceba do que estamos a falar, podemos distinguir, fundamentalmente, quatro tipos de discurso. O discurso gongórico, redondo, que aparentando falar claro nada diz e cuja mensagem acaba por se perder nos seus rodriguinhos. São exemplos deste tipo os discursos de Sampaio ou Guterres. Um outro tipo de discurso é o discurso demagógico-incisivo, pleno de carga retórica, destinado a impressionar as audiências sem nada acrescentar. O discurso de Portas ou Santana Lopes é um exemplo deste. Em terceiro lugar temos o discurso panfletário, incoerente, destinado a confundir os auditórios e a corresponder, de acordo com o calendário político ou a evolução dos acontecimentos, à necessidade de intervenção e de protagonismo de um actor ou grupo, às exigências eleitorais dos partidos ou dos seus líderes. São exemplos deste tipo os discursos dos deputados Guilherme Silva, Francisco Louçã ou Odete Santos. Por fim, temos o discurso político por excelência. Este será o discurso ponderado, sensato, que obedece a uma linha de raciocínio lógico ao longo do tempo, solidamente estruturado em valores e que, por vezes, tem alguma dificuldade em atingir os seus destinatários. Constituem exemplos deste tipo de discurso as intervenções de Adriano Moreira, de Pacheco Pereira, de Paulo C. Rangel, de António Vitorino ou dos falecidos João Amaral e Luís Sá.

Naturalmente que existem vários factores que influem na aceitação da mensagem, nomeadamente o carisma do actor político, a sua capacidade de se fazer ouvir, a maior ou menor dificuldade de acesso aos media ou a difusão e tratamento que sejam dados à mensagem pelos jornalistas.

Há, contudo, uma personalidade na vida pública portuguesa, cujo nível e inteligência das suas intervenções, independentemente de se gostar ou não das ideias, que já constitui um modelo. Trata-se do actual cardeal patriarca de Lisboa que, não sendo um político, tem sido capaz de afirmar um modelo de intervenção pautado pelo rigor, pela simplicidade e pela elevação discursiva. Estou à-vontade para dizê-lo pois que não só não tenho especial apreço por padres, como não sou um seguidor acéfalo dos modelos do Vaticano.

Posto isto, gostaria de sublinhar a necessidade dos actores políticos, em especial em Macau, pela influência que esse tipo de intervenção pode ter numa vasta camada da população que desconhece os modelos e as regras por que se deve pautar a intervenção democrática, serem capazes de reger a sua acção por modelos discursivos claros, simples, sérios e elevados.

A veemência do discurso atabalhoado, a intervenção que revela ignorância ou o simples insulto, apenas têm como efeito afastar os cidadãos da participação. A comunidade portuguesa de Macau tem a obrigação de ser a primeira a dar um exemplo de participação democrática, assente em padrões de respeito, decência e elevação. E isso pode começar já pelo discurso. Afinal, é também por aqui que uma democracia se distingue de uma choldra.".

POIS NÃO

"Na Assembleia Regional da Madeira, faz-se humor e sátira mas sempre de uma maneira que não leva à demissão, seja de quem for", disse ontem Alberto João Jardim em Faro. E eu, por uma vez, tenho de estar de acordo com o presidente do Governo Regional da Madeira. Pois não, lá ninguém é levado à demissão. Só lhe faltou dizer que na Madeira os touros envelhecem na praça, com o bandulho cheio e inebriados pela poncha. Deve ser esse o projecto de Macário Correia para Faro.

quarta-feira, julho 01, 2009

DIA DE DELITO

Hoje também escrevi umas coisas no Delito de Opinião.

TUDO ENGATADO

A confirmar-se a notícia do Diário de Notícias de que Luís Filipe Vieira está impedido de se candidatar nas eleições marcadas para dia 3 de Julho, isto significa que a esperteza saloia não lhe serviu para nada. Pode ser que assim os seus peões percebam que o Benfica é um clube bem maior do que os mais de 100 anos que já leva de história e que merece outra gente, com outro nível, à frente dos seus destinos. Da mesma forma que ninguém perdoa ao macho que bate na mulher e que depois diz que o faz por amor, também neste caso as manifestações de amor à camisola não chegam. Quando a estupidez é confundida com saber e inteligência não há amor que se salve. O glorioso SLB há-de sobreviver a mais este mar encapelado de vaidades, de protagonismos e de oportunismos.

PARA LER E PENSAR

"En realidad, la cuestión de fondo estriba en la descomposición prolongada, desde hace casi 20 años, de las élites políticas y culturales italianas de derechas y de izquierdas. El berlusconismo se manifiesta ante todo como el síntoma de tal descomposición, pero como su base social es ampliamente popular, parece evidente que la responsabilidad de la izquierda italiana también es aplastante.
La principal consecuencia de esta situación es más grave de lo que parece. La disgregación de la voluntad general mayoritaria, unida a la emergencia de la voluntad de poder berlusconiana, conduce de pleno a uno de los vicios más letales de la democracia, denunciado en la Antigüedad griega por Aristóteles: la transformación del sistema democrático en un sistema demagógico. Porque la demagogia, además de ser lo contrario a la ley democrática del término medio, es también la forma de expresión privilegiada de todos los populismos
." - Sami Naïr, El Pais, 27/06/09

"(...) la personalizzazione è un fenomeno inerente alla leadership: tanto più questa è autorevole e forte tanto più s’identifica inevitabilmente con la persona di chi l’esercita. Né tenevano conto del fatto che i regimi democratici, proprio per il pluralismo che caratterizza le loro società, hanno quanto mai bisogno di una leadership forte e unificatrice" - Ernesto Galli della Logia, Corriere della Sera, 25/06/09

"La migliore osservazione sul Partito democratico l'ha fatta Claudio Velardi, ex collaboratore di Massimo D'Alema: al Pd, dice Velardi, serve un «pazzo», nell'accezione positiva del termine, uno che si prenda il partito sparando sul quartier generale. Un leader che unisca estro, solidità culturale e credibilità. E la caparbietà necessaria per dedicarsi a un lungo lavoro di ricostruzione culturale e politica. Senza farsi condizionare troppo dai vecchi oligarchi del partito o da centri di potere esterni" - Angelo Panebianco, Corriere della Sera, 30/06/09